Título: Para governo, greves influíram no saldo de US$ 3 bi de maio
Autor: Vanessa Jurgenfeld, Marli Olmos Raquel Salgado, Se
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2006, Brasil, p. A3

As greves dos funcionários da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) provocaram "forte impacto" na balança comercial em maio, afirmou, ontem, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Meziat. Por isso, na sua avaliação, os números de exportações e importações registrados no mês passado estão, por isto, "fora da curva".

Enquanto as exportações ficaram estáveis em relação a maio do ano passado (pela primeira vez desde julho de 2003 elas não cresceram sobre o mesmo mês do ano anterior no critério de média diária), as importações seguiram aumentando, com resultado 8,6% superior ao de maio de 2005, pelo mesmo critério de comparação.

O governo mantém, para este ano, suas projeções de US$ 132 bilhões para as vendas externas e acredita que o saldo comercial deverá ser próximo dos US$ 40 bilhões no fim do ano.

Comparando as médias diárias de maio com as de abril, as exportações caíram 14,3% e as importações reduziram-se em 11,6%. Dentro do que espera a equipe do ministro Luiz Fernando Furlan para este ano, o ritmo das importações será mais forte que o das exportações. A taxa de câmbio, com o real mais valorizado, e o aquecimento do mercado interno são as causas desse movimento da balança comercial. Por isso, o saldo deve ser menor do que os US$ 44,7 bilhões de 2005.

"O câmbio vai afetar as exportações em algum momento neste ano, mas não dá para saber exatamente quando", admitiu Meziat. A cotação da moeda americana fechou ontem em R$ 2,25. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a partir de junho as exportações, tradicionalmente, têm um ritmo mais forte. De janeiro a maio, a média diária das exportações foi de US$ 480,3 milhões.

Na análise de Meziat, o aumento das importações é, a princípio, benéfico. Isso porque eleva a produtividade da indústria e, na modalidade "drawback" - importação desonerada de insumos para a produção de itens de exportação -, "agrega valor e neutraliza os efeitos do câmbio nas exportações". O secretário garantiu que o país tem mecanismos eficientes de defesa comercial para serem utilizados se a entrada de mercadorias apresentar ameaças à indústria nacional.

Meziat informou que o ministro Furlan lançará, no Rio, na terça-feira, um mecanismo de consultas informais entre o Ministério do Desenvolvimento e o Departamento de Comércio dos Estados Unidos. O objetivo é estabelecer uma "agenda positiva" para remover obstáculos ao comércio bilateral.

Em maio, a Secex registrou exportações de US$ 10,2 bilhões e importações de US$ 7,2 bilhões. O saldo apurado foi de US$ 3 bilhões. No acumulado até maio, as vendas foram de US$ 49,466 bilhões e as compras chegaram a US$ 34,002 bilhões. O superávit foi de US$ 15,464 bilhões, 1% menor que o do mesmo período do ano passado.

Considerando os últimos 12 meses - quando a influência das greves é bem menor -, Meziat afirmou que o saldo comercial registrado ainda é "astronômico". Nesse período, as exportações somaram US$ 124,3 bilhões, as importações foram de US$ 79,7 bilhões e o superávit foi de US$ 44,5 bilhões.

De acordo com a Secex, os destaques das exportações de produtos manufaturados, neste ano, são os crescimentos dos embarques de óleos combustíveis (146,1%), gasolina (77,9%), máquinas e aparelhos para terraplanagem (33%), motores para automóveis (22,2%), autopeças (19,4%), automóveis de passageiros (15,1%) e laminados planos de ferro/aço (13,9%).

Nas vendas de produtos básicos, os maiores aumentos, de janeiro a maio, foram registrados em petróleo (83,3%), algodão em bruto (55,4%), soja em grão (34,4%), minério de ferro (25,5%), carne bovina (12,3%) e fumo em folhas (11,7%). Nas exportações dos semimanufaturados, os destaques foram para as elevações de alumínio em bruto (44,9%), couros e peles (25,5%) e celulose (20,6%).

Em relação às importações, entre janeiro e maio, a Secex destacou que todas as categorias de produto tiveram elevação nas compras. O maior aumento foi dos bens de consumo (36,8%), seguidos por bens de capital (26,8%9, combustíveis e lubrificantes (24,5%) e matérias-primas e bens intermediários (14,1%).