Título: Investimento para exportar será mantido, revela estudo da CNI
Autor: Vanessa Jurgenfeld, Marli Olmos Raquel Salgado, Se
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2006, Brasil, p. A3

A forte mudança estrutural da indústria brasileira nos últimos anos e o temor de perder clientes conquistados no exterior deve garantir a manutenção dos investimentos e vendas dos exportadores nos próximos meses, mas a valorização do real em relação ao dólar começa a provocar outra mudança que pode comprometer o futuro do comércio externo do país. As empresas estão substituindo cada vez mais matérias primas locais por importadas e muitos novatos estão desistindo de exportar.

Essas são as principais conclusões da sondagem especial, realizada em abril pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com quase 1,3 mil pequenas e médias empresas e 215 das maiores companhias do país.

Os analistas da CNI foram surpreendidos com os dados sobre expectativas de investimento, reveladoras da importância adquirida pelo mercado externo na estrutura das companhias. Mesmo com a persistente valorização do real e as incertezas sobre a economia internacional, as exportadoras pretendem manter investimentos na produção para o mercado externo. "É um dado surprendentemente positivo, esperávamos uma queda", disse ao Valor o coordenador da CNI, Renato da Fonseca.

"Isso significa que quando houver a desvalorização do real será mais rápida a recuperação do ritmo de exportações", reconhece. Ele alerta que a CNI pesquisou esse dado pela primeira vez, o que impede comparações.

A pesquisa da CNI constatou que a maioria das empresas exportou menos em 2005, comparando-se com 2004. "O resultado parece paradoxal, por conta dos sucessivos recordes nas vendas externas brasileiras", comenta a nota de divulgação da sondagem da CNI. O que explica o fenômeno é o peso das exportações das grandes empresas, que ficaram constantes. "Dessa forma, a redução das vendas de pequenas e médias empresas, embora intensa, passa despercebida", comenta a nota. As exportações caíram, principalmente, nas firmas com menos de 20% da receita obtidas com exportação.

"É um mau sinal: empresas que começavam a entrar no mercado externo ou ainda exportavam pouco estão abandonando as exportações", analisa Fonseca. "Isso reduz o potencial de diversificação de exportações, aumenta a concentração das vendas em poucas empresas e é um indício de que a queda nas vendas poderá chegar em breve às grandes empresas".

O aumento de importações e matérias primas e a redução de pequenos e médios exportadores preocupam porque são reflexo da situação conjuntural do mercado de câmbio, com efeitos para toda a estrutura industrial, de clientes e fornecedores, adverte Fonseca. "Mudanças na estrutura são lentas e difíceis de realizar e reverter", diz. Ele defende medidas para reduzir custos de exportação, com diminuição de impostos e de burocracia para as vendas externas e melhoria de logística de transporte.

Até agora, porém, a sondagem constatou a consolidação da mudança estrutural positiva no setor privado, que passou a ver o mercado externo como estratégico e não como opção para excedentes de produção. A necessidade de manter o cliente foi apontada como razão para continuar exportando por 60,2% das pequenas e médias empresas e por 63,3% das grandes.

Entre as grande empresas, 49,4% também apontaram a necessidade de cumprir compromissos assumidos, e 45,8% se mantém exportando para abrir novos mercados. Essa busca de mercados novos motivou 47,5% das pequenas e médias exportadoras, e 36,8% disseram seguir exportando como alternativa à contração do mercado interno.

"O impacto é diferente, de acordo com os setores; a queda de exportações está levando a uma redução brutal nas encomendas de máquinas", comenta Newton de Mello, o presidente da Abimaq, a associação de produtores de máquinas e equipamentos para a indústria. Enquanto a Petrobras e a Vale do Rio Doce aumentaram em mais de 40% as encomendas, o setor de máquinas agrícolas nacional viu cair as vendas em 10%, o de plásticos, em 22% e o de mecânica pesada, em 4%. "O IBGE constatou aumento do setor no primeiro trimestre, mas já verificamos queda no quadrimestre."

Os fabricantes de máquinas mais simples são os que mais sofrem com a preferência pelos importados, informa ele. "Os chineses tomaram mais de 50% do mercado de injetores de plástico, e 100% do de fresadoras filamenteiras", conta Mello.