Título: Câmbio afeta exportação de manufaturados
Autor: Vanessa Jurgenfeld, Marli Olmos Raquel Salgado, Se
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2006, Brasil, p. A3

As empresas que operam com contratos sazonais na exportação já reduziram seus embarques ao exterior em decorrência da valorização do real. A retração também atinge as montadoras - em maio, a exportação de automóveis recuou 18% em relação a maio de 2005. Mas há muitas companhias que ainda elevam exportações. Entre estas estão aquelas com contratos anuais ou até de mais longo prazo e companhias que compensam custos com oferta de produtos de maior valor agregado ou com importação de matéria prima. As empresas não creditaram, suas perdas, à greve na Receita Federal. A queda decorrente da valorização do real já é uma realidade para muitas empresas do setor têxtil e calçadista. As exportações físicas da Calçados Bibi, localizada em Parobé, no Rio Grande do Sul, caíram cerca de 10% de janeiro a abril em comparação com o mesmo período de 2005 e deverão ficar neste patamar no acumulado até maio. Como conseqüência, a participação das exportações deve recuar de 30% em 2005 para 20% este ano, diz Andréa Kohlrausch, diretora de exportações da Calçados Bibi.

Almir Bieging, diretor de exportação da Teka, diz que em maio existiu demanda, mas não existiu um bom custo para competição no mercado mundial. Por isso, a Teka reduziu em 25% as exportações em maio deste ano na comparação com maio do ano passado, e essa será a tendência para o ano. Ele explica que a empresa diminuiu a produção em cerca de 10% porque não acredita que o mercado interno será capaz de consumir os produtos que não forem exportados. No fim do ano seu faturamento no exterior deve corresponder a 30% do total e não 50%, que era a meta.

Bieging afirma que o câmbio entre R$ 2,30 e R$ 2,40, como se viu nos últimos dias no mercado financeiro, ainda não permite rever as projeções para o ano porque na sua opinião trata-se de uma "bolha", e não uma tendência. "E fechamos contratos com seis meses de antecedência. Mesmo que o câmbio fique mais alto, ele não vai refletir em 2006, mas em 2007".

A Altenburg, empresa de cama, mesa e banho com sede em Blumenau, Santa Catarina, manteve a exportação no segundo trimestre como um todo, conseguindo cerca de 10% do seu faturamento no mercado externo. "Mas o dólar não está adequado. Manter a longo prazo a competitividade neste cenário é quase impossível", diz Quilian Rausch, diretor comercial da empresa, que apontou necessidades de mudanças estruturais.

A dificuldade no mercado externo tem sido parcialmente driblada com novos mercados, onde a empresa chega com uma nova tabela de preços, e aumento em dólar entre 10% e 15%. "Perdemos alguns clientes, mas buscamos outros e equilibramos", afirma Rausch.

A diretora da Bibi Calçados também conta que a empresa vem se esforçando para manter a competitividade das exportações, comprometida pelos reajustes semestrais, com a venda de produtos de maior valor agregado, como o skatenis (tênis com uma roda de skate acoplada), e a abertura de novos mercados, como Japão e Rússia.

Na Paramount, empresa têxtil, as vendas externas subiram 10% em maio, tanto em relação ao mesmo mês de 2005 quanto a abril deste ano. Claudio Cortês, assistente do presidente da companhia, Fuad Mattar, diz que esse crescimento já estava previsto, porque compradores da Argentina e dos Estados Unidos já haviam elevado encomendas. Boa parte da matéria-prima que a empresa utiliza para confeccionar os fios acrílicos de algodão e lã vendidos no exterior são importados, e por isso o custo da empresa também caiu nos últimos meses, compensando a valorização do real.

Na indústria automobilística, números preliminares mostram uma retração nos embarques nos cinco meses do ano. De janeiro a maio, a Volkswagen, maior exportadora do setor automotivo e quinta empresa que mais vende ao exterior no Brasil, vendeu em torno de 85 mil carros e caminhões para outros países. No mesmo período do ano passado o volume totalizou 100 mil unidades.

Dados da General Motors, a segunda maior exportadora do setor, também indicam retração de 15% nas vendas externas no acumulado do ano. Os executivos do setor começaram a anunciar que haveria queda no final de 2005. A GM prevê que as vendas externas vão cair entre 20% e 30% neste ano e a Volks, que exportou 256,5 mil veículos em 2005, reviu a meta deste ano para 197 mil unidades.

O câmbio tem afetado bastante as exportações de calçados das empresas de Franca, como a Donadelli. O presidente da empresa, Jorge Félix Donadelli, estima que, em maio, as vendas externas caíram 50% em relação ao mesmo mês de 2005, ficando próximas ao registrado em abril. Segundo ele, o dólar barato levou a companhia a mudar sua estratégia para 2006, limitando as exportações a 50% de sua produção - em 2005, esse percentual atingiu 80%.

Presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), ele acredita que as exportações de sua empresa neste ano ficarão 50% menores do que em 2005, percentual maior que os 30% previstos para as empresas da região, justamente por causa da mudança na sua estratégia.

O presidente da Caraíba Metais, Geraldo Haenel, explica que a empresa negocia os contratos anualmente, em novembro, e por isso nem o dólar menor do início do ano, nem a pequena recuperação recente mudam as programações mensais da companhia. "Os contratos de exportação não entram e saem assim do dia para a noite", diz ele. No ano passado, a empresa exportou cerca de 50% de sua produção de cobre primário, percentual que representou US$ 620 milhões. Para 2006, a projeção é de elevar as vendas ao mercado externo a US$ 800 milhões.

A fabricante de cosméticos Sther aumentou em 10% o volume de suas exportações em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em relação a abril deste ano, o crescimento foi de 12%. A gerente de marketing da empresa, Veronica Wolff, conta que duas feiras internacionais de cosméticos, uma em Bolonha, na Itália, e outra em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, impulsionaram as vendas externas. A Sther fabrica loções corporais e cremes para hidratação capilar. Segundo Veronica, a empresa acertou seu mix de produtos e por isso cresce no exterior. "É importante saber o que vender e para quem. Cada país tem um tipo de demanda", argumenta.