Título: Efeito câmbio faz atividade industrial de São Paulo recuar 1,4% em abril
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2006, Brasil, p. A5

A indústria paulista fraquejou em abril. O Indicador do Nível de Atividade (INA) caiu 1,4% em relação a março, segundo dados que já descontam os efeitos típicos do mês e o fazem comparável com qualquer outro. No acumulado do ano, porém, o indicador tem alta de 7,6%, bem acima do resultado de todo o ano de 2005, quando o INA cresceu 1,8%.

Junto com esse resultado da indústria paulista, outros indicadores apontam para uma estabilidade da produção industrial em abril, na comparação com março, de acordo com projeções da consultoria Tendências. Já em relação a abril do ano passado, a produção deverá cair 1,8%. Porém, abril de 2005 teve 20 dias úteis, enquanto o deste ano teve 18.

A produção de papelão ondulado, que serve como embalagem dos itens produzidos pela indústria, caiu 0,2% em abril, segundo dados com ajuste sazonal. A produção de veículos cedeu 1%, o consumo de energia recuou 2,4% e o fluxo de veículos pesados nas estradas brasileiras foi 0,3% menor em abril na comparação com março. Ao mesmo tempo, a arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) teve queda de 3,6%.

"Abril não foi um mês de grande fôlego, mas preparou uma acelerada que virá no segundo trimestre", diz Guilherme Maia, economista da Tendências. Em média, a produção industrial deve crescer 0,6% em maio e em junho. Com isso, a produção cresceria 0,7% no segundo trimestre quando comparado ao primeiro.

Para a Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp) o resultado negativo não preocupa. Para Paulo Francini, diretor do departamento de economia da Fiesp, como o comércio varejista do Estado cresceu 4,1% em relação a março, a indústria deve reagir em maio e produzir mais, já que as vendas foram bem em abril. Além disso, ele lembrou que esse mês teve menos dias úteis e cinco fins de semana, o que impulsionou o desempenho do varejo.

De acordo com o levantamento de conjuntura realizado pelas entidades, as vendas da indústria caíram 10,3% em relação a março, nos dados sem ajuste sazonal. Contudo, na comparação com abril de 2005, houve crescimento de 16,2%. A quantidade de horas trabalhadas na produção também mostrou recuo: 4,9% em relação a março. Mas cresceu 1,2% na comparação com 2005. Os únicos indicadores positivos na comparação abril/março foram os relacionados à mão-de-obra. O total de horas pagas cresceu 0,4% e o total de salários reais avançou 2,8%.

Antonio Corrêa de Lacerda, diretor de economia do Ciesp, atribui à valorização do câmbio a perda de ritmo da indústria paulista. Há ainda a maior procura por produtos importados, que ficaram mais baratos com o real valorizado. Assim, as indústrias brasileiras precisam ser mais competitivas ou perderão mercado. A luz amarela, sempre lembrada pelos empresários, foi acesa, segundo Lacerda. "As exportações brasileiras já crescem a um ritmo abaixo das importações e isso preocupa", afirma Francini.

No entanto, como a indústria aposta em um cenário de redução de juros e aumento da massa salarial, o resultado de abril não deve se repetir nos próximos meses. "Os fatores positivos continuam aí: mais renda e mais crédito para a população comprar mais", completa Francini.