Título: Tucanos rejeitam ser vice de PSD em SP
Autor: Lima,Vandson
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2011, Política, p. A9

Aliança sim, mas sem renunciar à cabeça de chapa. Este é um consenso entre os quatro pré-candidatos do PSDB à sucessão em São Paulo sobre uma eventual coligação com o PSD, do prefeito Gilberto Kassab. Todos os tucanos que postulam a candidatura - os secretários estaduais José Aníbal (Energia), Bruno Covas (Meio Ambiente), Andrea Matarazzo (Cultura), e o deputado federal Ricardo Tripoli - baseiam-se em um mesmo pressuposto: é o PSDB que tem militância na cidade e tempo de televisão.

Ao PSD caberia, a depender do arco de alianças, indicar o vice nas eleições à prefeitura, em 2012. "Temos que lembrar que há também o DEM, nosso parceiro habitual", afirma Aníbal. A hipótese, discutida nos bastidores, de acertar uma aliança cruzada para as próximas duas eleições - o PSD encabeçaria a chapa na sucessão da capital paulista, tendo um tucano como vice, enquanto o partido de Kassab ficaria com a vice do governador Geraldo Alckmin quando este disputasse a reeleição, em 2014 - é vista por Tripoli como de benefícios restritos. "Isso só serve no projeto do Kassab de destruir o DEM, ao disputar o mesmo eleitorado. Elegemos duas vezes o presidente da República, cinco vezes o governador de São Paulo e uma vez o prefeito. Não faz sentido aceitarmos ser vice de um partido que nasceu agora e não tem nem tempo de televisão e rádio".

Bruno Covas diz que tal costura poderia fazer mal ao partido internamente. "Depois de todo um processo de prévias no PSDB, é muito difícil abrir mão de uma candidatura própria, não ficaria bem". Matarazzo vai mais longe. "Se nas eleições de 2008, quando o partido estava rachado, tivemos candidato próprio, porque não teríamos agora, com o PSDB unido?". O secretário de Cultura, no entanto, ressalva que "essa é uma decisão que passa pelo governador, liderança maior no Estado. O partido deve seguir o que ele achar melhor".

Uma aliança com o PSD poderia render ainda um problema na elaboração de propostas de um candidato tucano. "A gestão Kassab teve e tem a participação do PSDB. Mas se estivéssemos 100% satisfeitos, não lançaríamos candidatura própria", pontua Covas. Na mesma linha, Aníbal diz que "Kassab procurou trabalhar fortemente, mas não conseguiu vencer desafios como criar vagas suficientes em creches ou acabar com a cracolândia, no Centro". Na sexta-feira, o governador Alckmin deixou as portas abertas para uma aliança. "Da nossa parte a disposição é sempre de unir esforços. Estamos abertos a construirmos, juntos, uma proposta para a cidade, independentemente de nomes", observou.

A possibilidade de Henrique Meirelles, que se filiou ao PSD e transferiu seu domicílio eleitoral para a cidade, compor a chapa é vista com cautela pelos pré-candidatos tucanos. "Não sei se ele aceitaria ser vice e não sei se seria um bom nome para prefeito", provoca Matarazzo. Aníbal diz que, sendo ele o candidato, não faria objeções quanto ao indicado pelo PSD para vice. "Mas é claro que, sendo o PSDB a indicar a cabeça de chapa, seria complicado ter o ex-presidente do Banco Central no governo Lula como vice".

Os tucanos buscam agora acertar a melhor data para a realização das prévias partidárias. Os quatro pré-candidatos concordam que o partido não deve protelar por demais a escolha, já que a disputa para um cargo do Executivo seria novidade para todos e nenhum deles conta com um recall que chegue a dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto. "Sem um nome definido, as alianças ficam comprometidas. O ideal seria termos todos os partidos que compõem a base de apoio do governo estadual", diz Aníbal.

Tripoli e Aníbal preferem que a escolha se dê ainda neste ano, já que o nome do PT será indicado, também por prévias, no dia 27 de novembro. Covas e Matarazzo veem janeiro como o mês ideal. Todos os filiados no partido há no mínimo seis meses terão direto a voto nas prévias. Segundo o presidente do diretório municipal do PSDB, Júlio Semeghini, o mapeamento desses filiados terminou na última quinta-feira e o número de aptos a participar do processo é de aproximadamente 23 mil pessoas.