Título: CUT deve eleger candidato apoiado por Marinho
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Fonte: Valor Econômico, 02/06/2006, Brasil, p. A5

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) deverá ter um novo presidente já na próxima semana, mas manterá o perfil de apoio ao atual governo. O atual secretário-geral da central, Artur Henrique da Silva Santos, deverá assumir a presidência no lugar de João Felício. Mas pouca coisa mudará na entidade, pois os dois dirigentes são da Articulação Sindical, corrente majoritária que sempre comandou a central.

O eletricitário Santos é funcionário licenciado da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) e era o preferido pelo ex-presidente da CUT e atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para assumir seu lugar em agosto de 2005, quando o metalúrgico foi para o governo. No entanto, após divergências na Articulação Sindical, Felício foi empossado, com a condição de ficar no cargo até o 9º Congresso Nacional da CUT, que começa na segunda-feira, dia 5. Antes de ser secretário geral, Santos foi secretário de organização. Presidiu também o sindicato dos eletricitários de Campinas e o Sinergia, que representa a categoria no Estado.

Agora, a troca de cadeiras é quase certa, uma vez que Santos tem, de novo, o apoio de Marinho e, por tabela, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os 2,5 mil delegados eleitos nos congressos estaduais representam os filiados à central, e vão eleger, na sexta-feira, dia 9, o novo presidente. A maioria está alinhada com Santos. No entanto, a direção da CUT diz que ainda não decidiu quem será o candidato da articulação: o eletricitário ou Felício, professor de história da arte e educação artística do Estado.

Haverá uma outra chapa, de oposição, a da Corrente Sindical Classista, que reúne sindicalistas ligados ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O candidato é Vagner Gomes, metroviário e atual vice-presidente da central.

"São favas contadas. Artur será o novo presidente", diz João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical. O presidente da Central Geral de Trabalhadores (CGT), Antonio Carlos dos Reis , o Salim, também aposta na vitória de Santos. Desde a posse de Felício, em agosto de 2005, Santos tem ganhado espaço na CUT. Embora não seja o presidente, quase sempre o eletricitário aparece mais do que Felício nos eventos públicos, comandando discursos e convocando os trabalhadores com palavras de ordem.

Em suas falas mais recentes, Santos mostrou apoio total ao governo Lula e tem pedido aos trabalhadores que reelejam presidente. Embora Felício seja secretário nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e também tenha mostrado apoio a Lula, sindicalistas dizem que ele é mais independente, fala o que pensa e pode, em alguns casos, bater de frente com o governo.

Foi o que ocorreu no último 1º de Maio, quando Felício disse que a CUT não aceitaria a regulamentação do trabalho aos domingos. Vinte dias depois, durante inauguração da nova sede de Sindicato dos Comerciários, no centro de São Paulo, Lula defendeu a regulamentação. Ao mesmo tempo, Santos é tido como fiel escudeiro do atual ministro do Trabalho.

O 9º Congresso anunciará também apoio formal à reeleição de Lula e debaterá temas ligados ao movimento sindical. Para isso, contará com a presença do filósofo italiano Antonio Negri e o sociólogo brasileiro Emir Sader, que discutirão a relação da CUT com governos democrático-populares, além do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que falará sobre a política externa do governo Lula. (RS)