Título: Após três anos, meta de inflação será cumprida
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Brasil, p. A2

O regime brasileiro de metas de inflação, que desde 2001 vem estourando tetos e metas ajustadas no meio do caminho, termina 2004 com grandes chances de cumprir o pretendido. O centro da meta, de 5,5%, não deverá ser atingido, mas chegar ao final de dezembro com o IPCA pouco acima de 7% pode ser considerado um resultado positivo se lembrarmos que o teto é de 8%. Desde a sua adoção, poderia se dizer que a inflação "comportou-se" bem nos dois primeiros anos. Fechou o ano de 1999 em 8,94%, portanto, dentro da banda que ia de 8% a 10%. E no ano seguinte ficou abaixo do centro da meta, que era de 6%, com 5,97%. Depois disso, a situação ficou mais complicada. Em 2001, o país teve que lidar com os efeitos do "apagão" e os atentados terroristas nos Estados Unidos, e o IPCA acabou ultrapassando o teto de 6%, chegando a 7,67%. O ano seguinte, que continuou carregando os efeitos de um ambiente mundial inseguro e mais caro, trouxe a campanha presidencial e, com ela, o receio, para alguns, e a esperança, para outros, de que um governo petista pudesse fazer uma política diferente da adotada até então pelos tucanos. A meta, que era de 3,5%, ficou lá embaixo e o IPCA foi a 12,53%. O primeiro ano da administração petista começou com uma meta de 3,5%, que subiu a 4,5%, com um teto de 7%. A meta seria ajustada mais uma vez, para 8,5%. Mas esta também foi ultrapassada. Neste ano, ficaremos abaixo do teto pela primeira vez em três anos e a expectativa para 2005 não é de todo negativa, se forem considerados os cálculos que as instituições financeiras enviam ao Banco Central a cada semana. O centro da meta é de 5,1% e o mercado financeiro, que há um mês previa um IPCA de 5,90%, puxou mais para baixo a sua previsão, para 5,80%.

"Eu tenho certeza que estamos mais confortáveis em 2004 e 2005 não parece tão complicado ", diz o economista Paulo Pichetti, que coordena a elaboração do IPC da Fipe, cujo comportamento tem sido semelhante ao índice oficial da inflação, o IPCA. Desde o final de novembro, quando a Petrobras anunciou um novo aumento nos preços dos combustíveis, Pichetti vem detectando que os reajustes praticados nas bombas têm ficado acima daquele dado pela estatal nas refinarias. Mas esses preços tendem a cair nas próximas semanas, diz ele, devido à competição entre os postos de gasolina. Ele estima que o IPC termine 2004 em 6,5%. Para 2005, Pichetti ainda não fez previsão, mas economistas de bancos esperam algo em torno de 5,40%. O economista-chefe da Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias, também mostra-se otimista em relação ao comportamento dos preços em 2005. "Estamos bastante convencidos de que o IPCA em 2005 ficará dentro da banda, entre 5,70% e 5,80%". Ele calcula que o preço do petróleo, que chegou a ultrapassar os US$ 50 o barril, deve permanecer no patamar atual, em torno de US$ 37 (o tipo Brent), no próximo ano - um cenário bem mais positivo do que a maior parte dos analistas fazia nos últimos meses. Bem, mas se o resultado alcançado neste ano é positivo e se 2005 não parece, pelo menos até agora, um ano perigoso para a inflação, por que o Comitê de Política Monetária (Copom) dá sinais de que vai continuar aumentando o juro, que já está nas alturas? Mathias tem a resposta na ponta da língua: "Neste ano o país cresceu demais". Havia o perigo de aumento nos preços pois a indústria estava operando já no teto de sua capacidade instalada. Esse problema pode ser atenuado com investimentos, que começam a aparecer.

Segundo o IBGE, a formação bruta de capital fixo (investimentos em máquinas, equipamentos, e na construção) no país cresceu 6,7% no terceiro trimestre, em relação ao segundo. Em comparação ao terceiro trimestre de 2003, o aumento foi de 21%. A taxa de investimentos, cuja média em 2003 ficou abaixo de 18%, estaria agora em torno de 20%. A outra boa notícia para 2005 é que os preços monitorados - tarifas públicas, em especial, que mais uma vez fizeram papel de vilão neste ano por carregarem o peso do dólar embutido nos IGPs - mostram tendência a convergir com os preços livres, que costumam subir menos.