Título: BC reduz ritmo de corte no juro
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2006, Brasil, p. D1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu em 0,5 ponto percentual, para 15,25% ao ano, os juros básicos da economia. Foi a oitava redução seguida da taxa Selic desde setembro de 2005. Com a queda de ontem, os juros básicos se igualam ao percentual mais baixo na história do Copom, que esteve em vigor em fevereiro e março de 2001.

Naquela ocasião, a Selic subiu logo em seguida, devido à crise de abastecimento de energia elétrica, o chamado "apagão". É também a menor taxa de juros real desde dezembro de 2004 (veja gráficos). Considerando a Selic de 15,25% ao ano e o IPCA, na mediana projetado pelo mercado no Boletim Focus do BC, o juro real atingiu 10,6%.

A decisão do Copom veio dentro do esperado pela maioria esmagadora dos analistas econômicos. Foi uma reunião rápida, com pouco mais de duas horas, ao final da qual foi divulgado um comunicado que não fecha as portas para a continuidade do afrouxamento da política monetária no próximo encontro, em julho. O BC não se compromete, por outro lado, com novos cortes na taxa básica, dizendo que será necessário analisar a evolução do cenário econômico nas próximas semanas.

Diz a nota divulgada pelo Copom: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 15,25% ao ano, sem viés, e acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Paulo Giandalia/Valor Alfredo Moraes, presidente da Andima: Copom foi coerente com a preocupação com a inflação

"A decisão do Copom estava amplamente precificada nos mercados, por isso não deverá ter maiores impactos no mercado financeiro", disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. "O recado básico é que, embora as condições da economia permitissem mais, o Copom mostra cautela por causa das incertezas sobre os mecanismos de transmissão da política monetária e por causa da volatilidade recente no mercado financeiro".

O corte de apenas 0,5 ponto representou, na prática, uma desaceleração em relação ao 0,75 ponto decido na reunião anterior. Mas não causa surpresa porque a possibilidade de desaceleração foi amplamente sinalizada na ata do Copom de abril - que mencionava a hipótese de a Selic cair com maior parcimônia. O argumento do BC é que, após seguidos cortes de juros - com a decisão de ontem, a redução total já soma 4,5 pontos desde setembro de 2005 -, crescem as incertezas sobre como esse estímulo monetário vai afetar crescimento e inflação.

Parte dos analistas ainda acreditava em um corte de 0,75 ponto até o acirramento da volatilidade no mercado financeiro. Mas se formou um consenso de que, num ambiente incerto, o BC evitaria movimentos mais ousados. Adauto Lima, economista do Banco WestLB, considerou correta a decisão do Copom, pois o BC não surpreendeu o mercado. "A autoridade monetária sinalizou em sua ata que iria desacelerar o ritmo de corte nos juros básicos", disse.

Havia quem apostasse em corte de 0,25 ponto por causa do cenário externo mais volátil que provocou um "desequilíbrio momentâneo" no câmbio. Mas, para Lima, o BC reconheceu os ganhos da inflação de curto prazo e a "folga no hiato do produto" nos números de investimento direto do Produto Interno Bruto divulgados ontem.

O economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, era um dos que acreditava em baixa menor. "Eu esperava 0,25 ponto de queda. A inflação está baixa, até permitiria uma redução maior, mas o cenário internacional ainda é incerto", afirmou, referindo-se à volatilidade que atingiu os mercados com a expectativa com a alta dos juros nos EUA.

Para a próxima reunião do Copom, nos dias 18 e 19 de julho, Adauto Lima espera uma redução mais modesta, de 0,25 ponto percentual. "Tudo vai depender da turbulência externa e de seus impactos no câmbio" , disse Lima. Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse, concorda. Segundo ele, se o câmbio ficar de R$ 2,30 a R$ 2,40, a tendência do BC é mesmo de cortar os juros no nível entre 0,50 ponto e 0,25 ponto. Ele acredita que as condições mais favoráveis do balanço de pagamentos podem fazer com que o câmbio brasileiro volte a se apreciar. "Nesse caso, haveria mais espaço para os 0,50 ponto." Para ele, "a dinâmica da inflação está excepcional" e a alta do IPCA no segundo trimestre não deverá passar dos 0,4%.

O presidente da Andima, Alfredo Moraes, considerou o corte de meio ponto na taxa Selic coerente com a preocupação do Copom com a inflação. Há alguma pressão de custos do grupo de energia e de alguns tipos de commodities, lembrou. Para Moraes, o corte de meio ponto indica também que o Copom acredita que o BC poderá navegar com relativo controle pela atual turbulência dos mercados. Afinal, disse, o BC tem um estoque de US$ 6 bilhões em "swap cambial reverso" que pode ser anulado com os "swaps cambiais" para evitar maior volatilidade. Se o Copom receasse algum impacto mais forte da instabilidade externa no mercado doméstico, teria reduzido o ritmo dos cortes. No novo patamar de 15,25%, a Selic pode fechar o ano mais perto de 14%, estima.

Para o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), João Ayres Rabêllo Filho, o corte de meio ponto da taxa Selic ficou dentro do esperado e reforça a postura técnica do Copom e sua preocupação com o núcleo da inflação. Rabêllo afirmou que o comportamento do Copom também confirma o diagnóstico de que a recente elevação do dólar não afeta a inflação a médio e longo prazo. O presidente da ABBC espera que o Copom mantenha o atual ritmo e reduza a Selic em mais meio ponto na próxima reunião.

Logo que foi anunciada a nova Selic, os dois maiores bancos de varejo, Bradesco e Banco do Brasil, avisaram que estão reduzindo as taxas de juros de diversas modalidades de crédito, para pessoas físicas e pessoas jurídicas. (Colaboraram Maria Christina Carvalho, Cristiane Perini Lucchesi e Janes Rocha, de São Paulo)