Título: Inflação já recua em 20 países que adotam meta
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2011, Brasil, p. A3

A inflação acima da meta ainda é um fenômeno generalizado no mundo, mas os índices de preços acumulados em 12 meses já dão sinais de desaceleração em grande parte dos países. De um levantamento do Bradesco com 27 países mais a zona do euro, 23 ainda estão com a inflação em 12 meses rodando acima do alvo, mas em 20 deles o pior já ficou para trás - como no Brasil, na China e no Chile.

A dissipação da pior parte do choque de commodities do fim do ano passado é um dos principais fatores que explicam a perda de força da inflação no Brasil e no mundo, nota o economista-sênior do Bradesco Daniel Weeks. Além disso, a atividade econômica mais fraca, tanto nos países desenvolvidos e nos emergentes, contribui para uma inflação mais comportada nos últimos meses. A expectativa dominante é que a inflação em 2012 deve preocupar menos do que em 2011. Uma forte recuperação global parece fora de cogitação, e as commodities devem no mínimo não atrapalhar a inflação.

O levantamento do Bradesco inclui países que têm uma meta de inflação explícita, como Brasil, Chile e Austrália, e outros com alvo implícito, caso dos Estados Unidos, onde o nível de 2% é tido como a referência do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

No fim do ano passado e no começo deste ano, a disparada das commodities jogou para cima a inflação global, pressionando os preços de alimentos e combustíveis. No caso brasileiro, isso fez o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter variações bastante elevadas especialmente a partir de outubro de 2010. Naquele mês, o IPCA subiu 0,75%, impulsionado pelo aumento de 1,89% dos preços de alimentos e bebidas.

Agora, a situação das commodities é bem mais tranquila. Houve queda na comparação com os níveis do primeiro trimestre. Em outubro deste ano, os alimentos no IPCA subiram 0,56%, enquanto o índice "cheio" avançou 0,43%.

Nesse cenário, sai um índice salgado no acumulado em 12 meses - o 0,75% de outubro de 2010 - e entra uma variação mais modesta - o 0,43%. Com isso, o IPCA em 12 meses recuou de 7,31% em setembro para 6,97% em outubro, acima dos 6,5% do teto da meta, e bem distante do centro, de 4,5%.

Esse fenômeno ajuda a explicar também a perda de força da inflação em países como a China, que viu o índice de preços ao consumidor nessa base de comparação recuar de 6,3% em setembro para 5,6% em outubro, nota Weeks. "É uma tendência global, que se deve ao arrefecimento dos preços de commodities nos últimos meses", diz a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.

Outra influência importante é a desaceleração da atividade econômica. Weeks observa que vários países emergentes apertaram a política monetária ao longo do primeiro semestre, para combater um aquecimento que, no começo do ano, era visto como excessivo. Como os aumentos de juros atuam com defasagem, o impacto sobre a atividade econômica e sobre os preços ocorreu com mais força nos últimos meses, diz Alessandra.

No caso dos países desenvolvidos, a atividade se enfraqueceu devido ao agravamento da crise, e não por novas rodadas de aperto monetário. Há casos em que a inflação em 12 meses segue bem acima da meta, mas por motivos específicos. No Reino Unido, por exemplo, o índice de preços subiu 5,22% nos 12 meses até setembro, uma alta influenciada em parte pelo aumento da alíquota do imposto sobre valor agregado, ocorrido em janeiro deste ano.

Daqui para a frente, a tendência é de que a inflação em 12 meses continue a perder força. Segundo levantamento da LCA Consultores com 27 países que adotam o regime de metas de inflação, o consenso das projeções mostra que em 19 deles os índices de preços em 2012 ficarão abaixo do nível de 2011. Isso não quer dizer, porém, que as metas serão cumpridas: a inflação só deve ficar no alvo ou abaixo dele em sete países. A questão é que em nenhum dos 27 o teto da meta de 2012 deverá ser "furado", ao passo que neste ano isso deve acontecer em 11 casos.

Não por acaso, o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, acredita que a inflação vai preocupar menos de agora em diante, com a fraqueza da economia ganhando mais atenção. A atividade industrial em diversos países emergentes, incluindo a China, tem mostrado um ritmo fraco nos últimos meses, em parte como reflexo da piora da crise na Europa, diz ele.

Com um cenário de fraco crescimento global, os três analistas projetam inflação mais baixa para o Brasil em 2012, inferior ao percentual de cerca de 6,5% esperado para este ano. Contudo, enquanto Weeks e Alessandra ainda veem um IPCA na casa de 5,5%, Borges acha que há uma possibilidade não desprezível de o indicador fechar 2012 entre 4,5% e 5%. Para ele, se o crescimento brasileiro ficar em torno de 3% neste ano e no ano que vem, o IPCA pode buscar esse intervalo, considerando preços de commodities convertidos em reais estáveis e uma alta de preços administrados (como tarifas públicas) de 4% a 4,5%, comparados com 6,5% em 2011.

Projetando uma expansão do PIB um pouco mais forte em 2012, de 3,7%, Alessandra prevê um IPCA de 5,6% no ano que vem. Já Weeks estima alta de 5,5%, esperando um crescimento brasileiro também de 3,7% e uma atividade mais fraca no mundo, que produzirá "efeitos desinflacionários" no ano que vem, principalmente para commodities metálicas e energéticas.