Título: Ipea revê crescimento do PIB para 5,2%
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Brasil, p. A3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou de 4,6% para 5,2% sua projeção para o crescimento da economia brasileira este ano, o que geraria o maior aumento do Produto Interno Bruto (PIB) desde 1994, quando o crescimento foi de 5,9%. Um dos motivos para o otimismo das novas previsões é o grande salto da taxa de investimento, que alcançou no último trimestre o patamar de 20%, que não era atingido desde o primeiro trimestre de 2001. "O que se nota talvez é que nos ciclos anteriores em que essa taxa cresceu desta forma o que havia era mais modernizações do que efetiva ampliação da capacidade instalada, que é o que está ocorrendo agora", disse o diretor de estudos macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy. Ele destacou ainda a forte reação do setor de construção civil nos últimos trimestres. É justamente no rastro desse aumento do investimento que o país deve sustentar seu crescimento em 2005, prevê o instituto. Segundo as projeções, a taxa de investimento em relação ao PIB deve fechar 2004 em 19,2% e, no ano que vem, crescer para 21%. Apesar dessa perspectiva positiva, a projeção de crescimento de 3,8% para o PIB do próximo ano foi mantida, uma vez que a demanda externa já não será tão acentuada e a economia brasileira crescerá com base no aumento apenas da demanda interna. De acordo com as projeções divulgadas ontem - contidas no boletim de conjuntura da instituição - o consumo total, previsto para crescer 3,2% este ano, deve se elevar para 4% no ano que vem. Por outro lado, as exportações, que este ano crescem 18,8%, teriam incremento de apenas 5,1% em 2005, enquanto as importações deverão crescer 13,8% no próximo ano. "As importações vão crescer mais e, em termos líquidos, a demanda externa já será negativa", observou o diretor do Ipea. A previsão é de que o saldo da balança comercial feche em US$ 33 bilhões este ano e recue para US$ 24,7 bilhões em 2005. Levy lembra que as projeções para os indicadores internos são muito boas. Para o instituto, o consumo das famílias vai aumentar 4,6% e os investimentos produtivos, 9,1%. A demanda interna deve contribuir com 4,8 ponto percentual do PIB em 2005, mas o saldo entre exportações e importações reduzirá sua contribuição para a expansão da economia em quase 1,5 ponto percentual. Segundo Levy, a conjuntura externa será o grande fator de preocupação em 2005, em função do crescente déficit fiscal dos EUA, já na casa dos 6%. Na avaliação do economista, caso as economias asiáticas, principalmente a China, não deixem suas moedas flutuarem, poderá ser precipitada uma alta da taxa de juro americana para conter o consumo e a inflação. "Uma boa alternativa seria que os bancos centrais sentassem para traçar uma estratégia, como ocorreu da última vez que a moeda americana começou a desvalorizar face às outras", disse Levy. Ele acrescentou, no entanto, que seria importante integrar logo as principais economias da Ásia ao G-7 e ao G-8 porque elas serão importantes na definição dessa política. Para o Brasil, Levy recomenda como estratégia uma política comercial externa mais agressiva. "A China já vem costurando acordos para a formação de um mercado asiático e se isso ocorrer, pode ser muito ruim para o Brasil".