Título: Ministro aposta em espaço para acordo na OMC
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2006, Brasil, p. A2

O Brasil aproveita a "brecha de otimismo" mostrada por algumas delegações em Genebra para apostar no êxito, ainda neste ano, das negociações de liberalização comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que ignorou ontem as declarações pessimistas de autoridades francesas em relação à possibilidade de sucesso da chamada rodada Doha de liberalização comercial. "Não queremos cair no caminho do bilateralismo ou do regionalismo: para nós o multilateralismo é indispensável", declarou, após uma reunião de trabalho com o ministro de Relações Exteriores do Chile, Alejandro Foxley, em visita ao Brasil.

"A discussão na OMC é um acordo que exige coragem política; não passa mais pela negociação técnica", afirmou Amorim, ao defender, mais uma vez, a interferência dos líderes e chefes de Estado. Insinuando que o pessimismo dos franceses pode ser manifestação do desejo de fracasso nas negociações, o ministro informou ter conversado na segunda-feira com o comissário europeu do Comércio Peter Mandelson, e não ter percebido nenhum sinal de impasse nas negociações. Há dificuldades, mas nenhum obstáculo intransponível, argumentou.

Ao lado, Alejandro Foxley endossou o otimismo cauteloso de Amorim, a quem classificou de líder no G-20, grupo formado por países em desenvolvimento interessados em derrubar barreiras e subsídios agrícolas dos países ricos que distorcem o comércio internacional. "Os europeus estão emitindo sinais de que se aproximarão das posições do G-20", comentou.

Em Genebra, é intensa a troca informal de documentos com propostas de negociação. O G-20, que havia paralisado a formulação de sugestões de negociação, voltou a discutir e propor fórmulas para reduzir tarifas protecionistas em agricultura, segundo assessores de Amorim, que acreditam ser decisiva a reunião de ministros convocada pelo secretário-geral da OMC, Pascal Lamy, para junho.

A reunião poderá desatar os nós que impedem o avanço das discussões, ou servir para que as autoridades dos países membros da OMC reconheçam a impossibilidade de continuar as negociações entre ministros, acredita-se no Itamaraty. Isso abriria caminho para que o Brasil reapresente a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de uma reunião de chefes de Estado e governo dedicada a definir a Rodada. (SL)