Título: Brasil e Chile enfatizam aliança "política" quando região vive momentos de conflito
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2006, Brasil, p. A2

Brasil e Chile farão reunião bilateral para discutir a integração energética na América do Sul, antes de convidar os demais países da região para uma iniciativa comum nesse setor, informou o ministro de Relações Exteriores do Chile, Alejandro Foxley, depois de encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Amorim e Foxley enfatizaram a aproximação "política" entre os dois países, em entrevista repleta de referências indiretas às divergências provocadas na região pelas ações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Foxley classificou de "fundamental" a aproximação entre Chile e Brasil, "neste momento em que se vive uma série de conflitos abertos e latentes na América do Sul e na América Latina". "Quero salientar o aspecto político dessa aliança", comentou Amorim, ao falar das ações em comum entre os dois países, duas "democracias fortes, voltadas à resolução dos problemas sociais".

"Temos de trabalhar a unidade na diversidade, respeitando os estilos e processos de cada país", comentou Amorim, numa crítica velada às insistentes intervenções de Chávez nos processos eleitorais dos países vizinhos, como o Peru e a Bolívia. Foxley enfatizou a identidade entre os governos brasileiros e chileno em seu empenho pela democracia e pela economia globalizada, com um "modo de resolver os problemas pelo diálogo".

Após despedir-se de Foxley, porém, Amorim evitou críticas a Chávez - a quem, em abril, em depoimento ao Senado, chegou a acusar de causar "desconforto" ao governo brasileiro por suas ações na região. Amorim disse não ver nenhuma "polarização" entre os governos de esquerda da região, que analistas acreditam dividirem-se entre pragmáticos - como os de Lula e da chilena Michele Bachelet - e populistas - como o de Chávez e o do boliviano Evo Morales. "Não vejo polarização, mas nuances, graduações", definiu. "Todos estão preocupados em resolver os problemas sociais, em clima de democracia, com eleições", ponderou.

"Essa idéia de polarização, essas dicotomias são bem ao gosto do público europeu", disse ele, aproveitando para responder ao presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, que, às vésperas de viagem oficial ao Brasil, culpou as "desavenças" no Mercosul pelas dificuldades da negociação de um acordo de livre comércio entre o bloco e os europeus. "Eu poderia ter dito que, quando houve a negação da Constituição européia em referendos na Europa, que o problema da negociação Mercosul-União Européia são as desavenças entre os europeus", ironizou. "Como dizia Machado de Assis, a melhor forma de apreciar o chicote é ter o cabo na mão".

Amorim, em entrevista à TV chilena, indicou que o Brasil deverá apoiar as pretensões da Venezuela a ocupar um dos assentos rotativos do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) destinado aos países latino-americanos - assento disputado por Chávez com a Guatemala.