Título: Mais um brasileiro
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Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2010, Mundo, p. 25

Itamaraty confirma primeira vítima do país e revela que um segundo passaporte local foi encontrado. Identificação ainda precisa ser confirmada

O cônsul-geral do Brasil no México, Márcio Lage, informou ontem, segundo a BBC Brasil, que foi confirmada a identidade de um brasileiro entre os 72 imigrantes latino-americanos chacinados no estado de Tamaulipas, no México, e revelou que há uma forte possibilidade de que haja pelo menos mais uma vítima do país. Um segundo passaporte do Brasil foi achado. O corpo do detentor do documento, porém, ainda terá que ser identificado. Enquanto as famílias dos mortos não forem contatadas, porém, os nomes não serão divulgados.

Até ontem, haviam sido reconhecidos 31 14 hondurenhos, 12 salvadorenhos, quatro guatemaltecos e um brasileiro dos 72 corpos. Eram os únicos que estavam com algum documento de identidade, explicou o vice-chanceler de Honduras, Alden Rivera, em entrevista na Cidade do México. A chancelaria hondurenha anunciou que coordena com os familiares das vítimas o processo de repatriação. O massacre ocorrido em Tamaulipas foi atribuído por um sobrevivente equatoriano a integrantes do cartel Los Zetas. Dos estimados 400 mil imigrantes que atravessam o México para chegar aos Estados Unidos a cada ano, a maioria é vítima de redes internacionais de contrabando e do tráfico de pessoas e de drogas; muitos não conseguem chegar a seu destino, denunciou em Genebra Navi Pillay, titular do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnudh).

Em 11 de junho de 2008, por exemplo, um grupo de 33 cubanos e quatro centro-americanos foram sequestrados por um comando armado quando eram levados de Quintana Roo (no leste do México), a um centro de detenção do estado de Chiapas (sudeste). Dezoito desses 33 imigrantes foram detidos dias depois na cidade americana de Hidalgo (Texas); dos demais, não se soube mais nada. Pillay pediu ao governo mexicano, com caráter de urgência, uma investigação aprofundada, transparente e independente desses assassinatos, para preservar a dignidade das vítimas, assegurando sua identificação e devolução às famílias, em seu país de origem.

Em Washington, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou, em comunicado sua mais profunda preocupação com a matança de imigrantes ocorrida no México, pedindo ao Estado medidas urgentes para investigar e fazer justiça, assim como proteger os imigrantes em trânsito. A CIDH, entidade da Organização de Estados Americanos (OEA), recebeu em março denúncias de organizações não governamentais de que 18 mil pessoas teriam sido sequestradas pelo crime organizado em 2009, no México, e que a maioria dos afetados são crianças, meninas e mulheres.

O número 18 mil Total de pessoas sequestradas no México, em 2009, pelo crime organizado, segundo denúncia apresentada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Granada jogada em delegacia

Membros de uma organização criminosa lançaram, no início da madrugada de ontem, uma granada contra uma delegacia da Polícia de Monterrey, capital do Estado de Nuevo León (norte do México). Foi o terceiro atentado com explosivos contra as forças de segurança mexicanas nesta semana, informaram as autoridades. Nuevo Léon é um estado vizinho a Tamaulipas, onde foram encontrados 72 corpos de imigrantes vítimas de uma chacina durante a semana.

Oficiais da Agência Estatal de Pesquisas (AEI) dizem que, por volta da meia-noite, um jovem que viajava em uma motocicleta lançou uma granada contra instalações da Polícia Municipal de Monterrey. A bomba explodiu do lado de fora, provocando apenas danos materiais nos veículos estacionados em frente à sede policial.

Na quarta-feira, haviam sido registrados dois ataques com granadas, que deixaram quatro policiais feridos. A onda de violência registrada em Monterrey desde março seria produto de uma guerra entre dois grupos rivais de narcotraficantes e obrigou o Departamento de Estado dos Estados Unidos a ordenar a seus diplomatas que retirassem seus filhos da cidade.

Carro-bomba Na sexta-feira, horas antes do novo ataque em Monterrey, um carro carregado com explosivos foi detonado na capital de Tamaulipas, Ciudad Victoria. O atentado ocorreu em frente aos estúdios da rede de televisão Televisa, no centro da cidade. No mesmo dia, o presidente do México, Felipe Calderón, alegou que, embora o promotor que investigava o massacre dos imigrantes em Tamaulipas esteja desaparecido, não há informações sobre sua morte até o momento.