Título: A quem ameaça a aliança entre PSB e PSD
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2011, Política, p. A6

Eles rivalizaram publicamente e foram os protagonistas do maior escândalo da década, o mensalão. Mas agora compartilham ideias semelhantes sobre os rumos da política nacional, especialmente sobre qual o significado da dobradinha entre o PSD, recém-fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o PSB, liderado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Poucos dias depois de seu desafeto, o ex-deputado federal e ex-presidente do PT José Dirceu, criticar a formação de alianças entre as duas siglas, o também ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, declarou, pelo Twitter, que a parceria entre Campos e Kassab tem como principal alvo minar a hegemonia petista no cenário nacional.

Jefferson afirmou que o PT vai "reconhecer logo" que errou ao viabilizar a criação do PSD. O presidente do PTB lembrou que a legenda, formada por dissidentes do DEM, não encontrou resistência do governo federal e ainda recebeu gestos claros de apoio dos petistas. Como exemplos, Jefferson citou a liberação de alianças com a sigla de Kassab em 2012, decidida no último congresso do PT, e a abertura de espaços importantes, como na Bahia, onde o governador Jaques Wagner permitiu que seu vice, Otto Alencar, organizasse um dos diretórios estaduais mais fortes do PSD.

No entanto, como o parceiro preferencial de Kassab é o PSB, o partido do prefeito fortalecerá o projeto do governador Eduardo Campos de disputar a Presidência, defendeu o petebista. "É consenso hoje que o governador Eduardo Campos prepara-se para voo solo", comentou Jefferson, que rompeu com o governo federal ao denunciar o escândalo do mensalão em 2005.

Roberto Jefferson apontou como sinal desse projeto político em curso a possível formação de um bloco de deputados federais entre PSB e PSD para rivalizar com PT e PMDB como a maior bancada da Câmara.

"Na melhor das hipóteses, [Campos] age para minar a aliança PT-PMDB, se colocando como nome pra ocupar a vice na chapa da [presidente] Dilma [Rousseff] à reeleição", disse, embora o governador diga publicamente que não pretende concorrer a nenhum dos cargos em 2014.

Segundo Jefferson, os petistas estimularam a formação do novo partido devido a um "ódio cego" contra o PSDB, que perdeu força com a desestruturação de seu principal aliado, o DEM. "É nisso que dá a obsessão de derrotar o PSDB, principalmente em SP. Nesta armação, o tiro pode sair pela culatra", afirmou.

Na semana passada, José Dirceu, grande antagonista de Jefferson no escândalo do mensalão, fizera comentários que seguiram a mesma linha. Primeiro, em seu blog; e depois em reunião do comando nacional do PT. Nas duas ocasiões, Dirceu criticou a aliança Kassab-Campos, que já começou a se concretizar com a união dos dez vereadores do PSD com os três do PSB, na Câmara da capital paulista. O bloco dos 13 formará a maior bancada na Casa, ultrapassando a do PT, que tem 11.

Para Dirceu, o partido de Kassab serve a um projeto político não petista e reforça uma espécie de tríplice aliança, que já tem nos outros vértices a parceria entre o PSB e os tucanos. É o caso da comunhão já em andamento em vários Estados, como Minas Gerais, Paraná, Paraíba, Alagoas e São Paulo, onde o presidente regional do PSB, Márcio França, é secretário estadual de Turismo no governo de Geraldo Alckmin.