Título: Investimento em tecnologia elevou eficiência no campo
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Brasil, p. A4

O maior investimento em tecnologia - leia-se mecanização e uso de fertilizantes e defensivos - na agricultura nos últimos anos foi o principal responsável pela perda de emprego no setor no Brasil, segundo especialistas. Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que entre 1993 e 2001, a produtividade da agricultura brasileira cresceu 65,3%, mas no mesmo período houve perda de emprego de 14,9% no setor. "Uma coisa está relacionada à outra. O forte crescimento da produtividade elimina trabalho", observa o professor Fernando Homem de Melo, da Universidade de São Paulo (USP). Além do avanço da mecanização, o maior investimento em defensivos e fertilizantes também elevou a produtividade no campo, acrescenta Fábio Silveira, da MS Consult. "Houve intensificação do capital na agricultura, o que gera menos empregos diretos", diz Alexandre Mendonça de Barros, da MB Associados. Silveira avalia que, nos anos 90, ocorreu um fortalecimento da agricultura organizada, mais capitalizada, voltada para o mercado internacional. Esse movimento, porém, gerou reflexos na agricultura "não-organizada", de menor porte. "Essa agricultura não consegue concorrer com a organizada". O resultado, diz ele, é que aqueles que perderam o trabalho nesse segmento menos organizado vão para as cidades buscar empregos. Além do efeito do uso de tecnologia, o emprego também foi afetado pelo baixo crescimento na produção agrícola na década de 90, observa Homem de Melo. "A produção física foi prejudicada pela âncora verde", diz o professor. A âncora verde, lembra Homem de Melo, foi contenção da alta de preços dos agrícolas no mercado interno via valorização do real ante o dólar, no início do Plano Real. Essa política desestimulou o aumento da produção, já que as exportações ficaram menos competitivas. O quadro começou a mudar depois da primeira grande desvalorização do real ante o dólar, em 1999. E se reforçou a partir de 2001 e 2002, com as novas desvalorizações, que estimularam as exportações. Segundo analistas, a desvalorização tornou mais competitivos os produtos brasileiros. Silveira observa que a exportação de vários setores cresceu, elevando a necessidade de mão-de-obra. Nesse novo cenário, diz Silveira, houve aumento da produção, da área plantada, da produtividade e também da rentabilidade. "Houve aumento na capacidade de reinvestir, fortalecendo o próprio setor nos últimos quatro anos", afirma. Os números mais recentes sobre o emprego no campo mostram essa mudança. Segundo o Caged, até outubro, o emprego na agricultura e silvicultura cresceu 19,95%. No mesmo intervalo de 2003, o crescimento havia sido de 16,6%. Mas esse crescimento pode ser afetado, já que há perspectiva de queda na renda da agricultura, diz Homem de Melo, da USP.