Título: Ausência de líderes afeta reunião de Cuzco
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Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Brasil, p. A4
Presidentes e altos representantes de doze países sul-americanos estão em Cuzco, antiga capital Inca no topo dos Andes, para criar um bloco político e econômico que possa enfrentar Estados Unidos e Europa em pé de igualdade. Os líderes se encontram para dois dias de reuniões a partir de hoje e para firmar um acordo estabelecendo a Comunidade Sul-americana das Nações. É o terceiro encontro sobre esse novo grupo desde que dez presidentes da região se uniram pela primeira vez, em 2000, no Brasil, para propor a sua criação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje ao Peru, pela manhã. Com três dentre os doze presidentes regionais ausentes - Lucio Gutierrez, do Equador, Jorge Batlle, do Uruguai e Nestor Kirchner, da Argentina - alguns críticos questionam quão sério seria esse compromisso de formar um poderoso bloco regional. Mas alguns participantes estão otimistas. "Nos últimos trinta anos, buscamos uma América Latina com capacidade para ação internacional efetiva e ainda não a atingimos porque os países têm estado dispersos, e não unidos", afirmou o ministro de Relações Exteriores do Peru, Manuel Rodriguez. "Com essa nova comunidade, a América Latina será fortalecida". Mas não faltam críticos à nova organização. Estes observam que a AL já dispõe de meia dúzia de blocos políticos e econômicos e argumentam que estes fizeram pouco até agora para justificar sua existência. Blasco Penaherrera, ex-vice-presidente do Equador, que já foi embaixador da Organização dos Estados Americanos, é um desses críticos agudos da proliferação de entidades regionais. "Os presidentes vivem de encontro em encontro" ele ironiza. E nota que essas reuniões sempre lidam com temas genéricos como a melhora da educação e o combate à pobreza e nunca produzem resultados concretos. Do lado dos ausentes, o presidente argentino, Néstor Kirchner, mais uma vez, deixou que fatores da política interna influenciassem a política externa, e decidiu não participar da cúpula no Peru. Oficialmente, a explicação para a ausência foi de que ele não irá por recomendação médica. O médico presidencial, Luis Buonono, disse semana passada que não aconselhava a viagem devido à altitude, de quase 4 mil metros, e às altas temperaturas. Um dia depois de divulgada a versão oficial, entretanto, o presidente pareceu dar outra versão para a ausência, ao discursar sob forte calor em um ato político. "Em que reuniões protocolares eu posso estar pensando quando cada minuto que tenho devo dedicar ao povo argentino para que ele possa sair adiante? Vou às que julgo que são importantes para o país", afirmou Kirchner. Uma fonte do Itamaraty afirmou ao Valor que a ausência de Kirchner e também do presidente uruguaio, Jorge Battle, à reunião foi vista com preocupação, já que na visão da diplomacia brasileira a integração tem de ser feita junto com os demais parceiros do Mercosul. No caso de Kirchner, o motivo mais provável da ausência é o destaque que terá na reunião o ex-presidente argentino Eduardo Duhalde.