Título: Governistas capitulam e PMDB tende a realizar convenção do dia 12
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Política, p. A6

A Executiva Nacional do PMDB reúne-se hoje, para um embate entre governistas e oposicionistas dentro da sigla cujo resultado é previsível: os governistas devem reunir maioria para cancelar a convenção originalmente convocada para este domingo. A decisão não impedirá, contudo, a convenção de ocorrer de qualquer jeito, já que existe uma outra convocação para o encontro, assinada por onze diretórios estaduais. Entre os governistas, o desânimo é grande. A avaliação é que mesmo uma liminar judicial não será suficiente para impedir a realização da convenção-estepe. Também não se acredita que a manobra de esvaziamento retire o quórum do encontro. Ninguém tem esperança de vencer os oposicionistas entre os convencionais. A única estratégia restante é ignorar o resultado, com os ministros do partido permanecendo em seus cargos. "No dia seguinte à convenção, a maioria vai continuar com o governo. Será uma lástima política, um desastre para o partido", disse o senador Ney Suassuna (PB), membro da Executiva e governista. Apesar de inócua, a reunião da Executiva Nacional de hoje dará argumentos jurídicos e políticos para os governistas desautorizarem a convenção nacional que acontecerá em seguida. No mínimo, servirá de argumento para os ministros e dirigentes de estatais permanecerem em seus postos. Ainda dentro desta estratégia permanece a idéia dos governistas não comparecerem à convenção. O motivo não é mais impedir que o encontro tenha quórum, mas simbolizar o desencontro entre as cúpulas e a base da sigla. Na visão dos governistas, em um primeiro momento não deve haver desfiliação de parlamentares e outras lideranças da legenda. Mas nos meses que antecedem setembro de 2005, data final de prazo de filiação partidária para participar das eleições de 2006, uma debandada é provável. O lado que prega o desembarque do governo participou ontem de um almoço na residência oficial do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, para ouvir uma estranha proposta apresentada pelo senador Maguito Vilella (GO), um membro da Executiva que se equilibra entre as duas correntes. Maguito oficializou sua idéia, já exposta informalmente semana passada, de se transferir a convenção de 12 de dezembro para 27 de março, desde que todos os integrantes pemedebistas do governo deixem seus cargos até amanhã. Seria a antecipação do resultado da convenção e equivaleria a uma rendição dos governistas. A proposta foi recebida, tanto pelo lado governista, como pelos oposicionistas, como oriunda de parte do comando político do Planalto, já que o senador goiano comporta-se como um governista convicto nas votações da Casa. "Esta proposta deixa a questão nas mãos do governo", interpretou o presidente do PMDB, Michel Temer, cético em relação ao sucesso da iniciativa. "Não sei se o Maguito leva isso adiante. É preciso que haja muitas consultas. Seria preciso uma mini-convenção", disse. Entre os governistas, a tese de Maguito foi rejeitada de maneira imediata. Provocou espanto e desconfiança em relação às intenções do Planalto. Ou pelo menos de parte dos operadores do governo. Avalia-se que o que está em jogo não é o apoio ou não da bancada do PMDB ao governo, mas quem serão os interlocutores do partido junto ao Executivo. Temer e os governadores pretendem suplantar o líder do governo no Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente do Senado, José Sarney (AP) e o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, nesta função. Uma primeira etapa foi atingida ao se inviabilizar a reeleição de Sarney para a presidência do Senado. A segunda etapa é retirar a representatividade política de Eunício, o que pode ser conseguido com a convenção. O terceiro passo será inviabilizar a eleição de Calheiros para a sucessão de Sarney. Há a suspeita de que esta troca de interlocutores ganhou apoio dentro do círculo mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos últimos dias.