Título: Lupi nega denúncias e pede desculpas à presidente
Autor: Sousa,Yvna
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2011, Política, p. A9

Com o tom elevado em grande parte das mais de quatro horas de audiência na Câmara, e demonstrando segurança, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, rechaçou as acusações publicadas na revista "Veja" de que assessores da Pasta cobrariam de 5% a 15% de propina de ONGs contratadas para capacitar trabalhadores e desafiou seus acusadores a apresentarem provas. E, perguntado se renunciaria se houvesse a confirmação de caso de corrupção envolvendo o ministério e o seu partido, o PDT, o ministro foi enfático: "Não tem essa hipótese porque não vai aparecer."

Depois de ser advertido pela cúpula do governo, Lupi buscou se redimir com a presidente Dilma Rousseff após ter dito que só "abatido à bala" deixaria o cargo. "Desculpa, presidente Dilma, se eu fui agressivo. Eu te amo", disse.

Lupi sugeriu também que as acusações que os ministérios do governo vêm recebendo nos últimos meses podem ser uma tentativa de enfraquecer a chefe do Executivo. "Quando começam a tirar um soldado do exército, é para tirar o general", afirmou. Em cerimônia no Palácio do Planalto, Dilma Rousseff fez questão de tratar a crise na Pasta do Trabalho como um assunto encerrado. "Não tem crise com o ministro do Trabalho", afirmou. "O passado passou", completou a presidente, esquivando-se de comentar as denúncias contra o ministério e as atitudes recentes do ministro.

Lupi afagou publicamente também seu padrinho no governo: "Eu adoro o [ex-presidente] Lula. Homem de bem, honrado, [Lula] mostrou para essa elite que tinha curso na Sorbonne [universidade francesa], mas não tinha sensibilidade para governar o Brasil."

A oposição, que compareceu em peso, teceu críticas à gestão do Ministério do Trabalho e ao governo federal. "Não existe uma onda de denuncismo, mas uma onda de corrupção na Esplanada dos Ministérios", disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Irritado, Lupi fugiu do protocolo e travou uma discussão áspera com a oposição. "Não fomos nós que dissemos que não queríamos o PSDB [no governo]. Foi o povo. E não vendemos nenhuma empresa pública", retrucou Lupi, em referência às privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. E, diferentemente da audiência em que o então ministro do Esporte, Orlando Silva, contava com a unidade da bancada governista para blindá-lo, aliados mais insatisfeitos foram responsáveis por críticas ao governo e ao PDT.

O deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), elogiou a honra do ministro, mas engrossou o coro da oposição contra o governo: "Posso testemunhar aqui sua integridade pessoal e dizer, talvez, que você não tenha entendido esse processo. Você está sendo fritado e não é pela imprensa e pela oposição. É pelo governo."