Título: Abalada, Itália acelera pacote de ajuste e transição política
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Fonte: Valor Econômico, 11/11/2011, Internacional, p. A10

Aparentemente assustadas com a escalada do custo da sua dívida e com os crescentes rumores de que o país precisaria de uma ajuda financeira externa, as autoridades italianas buscaram ontem eliminar algumas incertezas que rondam o país. O projeto de lei com novas medidas de austeridade foi acelerado e deve ser aprovado em tempo recorde. Com isso, o premiê Silvio Berlusconi deve apresentar sua renúncia nos próximos dias. E seu substituto muito provavelmente será Mario Monti.

Líderes políticos, tanto do governo como da oposição, afirmaram ontem que a Lei de Estabilidade, um pacote de medidas de austeridade com alguns estímulos à economia, deve ser aprovado em tempo recorde, possivelmente até sábado, pelo Parlamento italiano. Entre as medidas previstas, estão a aceleração de privatizações, a venda de patrimônio do Estado e novas regras para a aposentadoria.

Isso abre caminho para a saída definitiva do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que prometeu renunciar assim que a lei fosse aprovada. Havia o temor nos últimos dias de que Berlusconi poderia tentar continuar no cargo até fevereiro de 2012, caso fossem convocadas eleições antecipadas. Mas ontem Berlusconi desistiu de pressionar pelas eleições e aliados disseram que ele está pronto para deixar o cargo nos próximos dias.

Com a renúncia, espera-se que no começo da próxima semana um novo governo seja aprovado pelo Parlamento, também em tempo recorde. O nome mais cotado para governar a Itália em meio à pior crise do país no pós-guerra é o de Mario Monti, ex-comissário europeu de Concorrência (leia perfil abaixo).

Monti se reuniu ontem com o presidente da Itália, Giorgio Napolitano (que não tem funções de governo). "A Itália está diante de passagens difíceis e de escolhas particularmente duras para superar a crise, e a Europa espera com urgência sinais importantes de assunção de responsabilidade. Estaremos à altura", disse Napolitano após o encontro, no que foi entendido como apoio velado a Monti.

Líderes de partidos de oposição a Berlusconi apoiaram ontem o nome de Monti. Não está claro se os partidos da coligação do atual premiê também votarão a favor do ex-comissário europeu.

Mas a aprovação de Monti como novo premiê encerra apenas o problema da substituição de Berlusconi, e não o da governabilidade da Itália. O novo governo terá de buscar apoio para medidas impopulares num Parlamento fortemente dividido entre partidos com interesses muitas vezes antagônicos.