Título: Brasil quer usar a América Central para vender mais aos Estados Unidos
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Brasil, p. A2

O Brasil está buscando uma aproximação com os países da América Central, o que poderá permitir, de forma indireta, maior acesso dos produtos e bens brasileiros ao mercado dos Estados Unidos. O governo brasileiro quer estimular empresas de diferentes setores a fechar parcerias e montar centros de distribuição nos países centro-americanos para atender aos mercados locais e também atingir os EUA.

Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua são signatários do Acordo de Livre Comércio América Central - Estados Unidos (Cafta, na sigla em inglês), que garante redução a zero do imposto de importação para cerca de 80% dos itens tarifários do comércio entre a região e os EUA.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, diz que há interesse de empresas brasileiras em fazer joint-ventures e montar centros de distribuição na América Central, estratégia que permitiria agregar valor à produção para venda local e reexportação para o mercado americano.

No domingo, Furlan desembarca no Panamá liderando uma missão com mais de 50 representantes do setor produtivo. Até o dia 3 de junho a comitiva manterá reuniões com autoridades e terá encontros de negócios no Panamá, Costa Rica, Guatemala, El Salvador e Honduras. O ministro estima que as exportações brasileiras para esses países, incluindo a reexportação, poderá crescer entre US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão a curto prazo como resultado das iniciativas que vêm sendo planejadas pelo governo e iniciativa privada.

Em 2005, o Brasil exportou cerca de US$ 1,5 bilhão para esses países. Furlan reconhece que o Brasil tem pequena presença na região e argumenta que a aproximação com a América Central responde a uma estratégia do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já esteve na América Central e, durante a missão, Furlan entregará cartas de Lula aos presidentes dos países visitados.

Furlan vê oportunidades de negócios em várias áreas, incluindo os biocombustíveis, já que os países centro-americanos são dependentes de importações de petróleo. Segundo o ministro, a Petrobras foi convidada pela Costa Rica para participar de atividades de exploração e produção de petróleo no país usando sua experiência em águas profundas. O ministro disse que foi realizado um trabalho técnico que identificou regiões que podem replicar a experiência brasileira nos biocombustíveis. Uma dessas regiões é a América Central e a outra, a África do Sul.

Os centro-americanos são produtores de cana-de-açúcar e soja. "A idéia é que se alargue a produção e o consumo mundial de biocombustível. O Brasil não pretende ser o único protagonista nessa área", disse Furlan. A idéia é disponibilizar tecnologia e estimular a sua exportação. Em El Salvador, a comitiva brasileira participará da inauguração de uma destilaria de álcool anidro construída em sociedade entre grupos locais e brasileiros liderados pelo empresário Maurílio Biagi Filho.

A missão também pretende explorar negócios relacionados à geração hidrelétrica e nos segmentos têxteis e calçadista, entre outros. Haverá ainda oportunidades nas áreas de engenharia e construção, sobretudo no Panamá onde o governo planeja ampliar o canal que liga os oceanos Atlântico e Pacífico.