Título: Dívida cai para 51% do PIB e pode recuar de novo em maio
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Brasil, p. A3

A dívida líquida do setor público, que vinha se mantendo praticamente estagnada nesse início de ano, sofreu uma queda importante em abril, de 51,8% para 51% do Produto Interno Bruto (PIB). As projeções do Banco Central apontam que o indicador vai registrar outra melhora em maio - favorecido pela disparada do dólar -, caindo a 50,6%.

A queda da dívida líquida é o principal objetivo por trás dos elevados superávits primários perseguidos pelo governo, mas os resultados vinham sendo decepcionantes. O débito chegou a subir levemente nesse início do ano - passou de 51,5% em dezembro de 2005 para 51,8% do PIB em março. Contribuiu negativamente o baixo crescimento do PIB nominal, causado sobretudo pela deflação em indicadores usados pelo BC para deflacionar e valorizar o PIB.

Em abril, houve queda porque os parâmetros usados pelo BC se tornaram positivos. A expansão nominal do PIB teve um efeito de 0,4 ponto percentual do PIB na redução do endividamento. Contribuiu ainda de maneira excepcionalmente favorável o forte superávit, com impacto de um ponto do PIB. E as despesas de juros ficaram menores no mês (efeito negativo de 0,6 ponto ante 0,7 ponto percentual em março), em virtude da queda dos juros básicos e do menor número de dias úteis em abril.

Usando parâmetros de mercado para juros, câmbio e crescimento econômico, o BC projeta continuidade de queda da dívida líquida até o final do ano. O indicador chegaria a 50% do PIB, tomando como base uma expansão de 4% da economia, um dólar em R$ 2,20 e uma taxa Selic média de 15,3% ao ano.

O mais surpreendente nas projeções do BC é que as turbulências no mercado financeiro poderão ter efeito positivo na dívida. Tomando como base um dólar em R$ 2,40, como registrado anteontem, a dívida recuaria para 50,6% do PIB em maio. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explica que o governo tem posição ativa em câmbio - o que faz com que lucre com a alta do dólar.

Cada alta de 1% no dólar produz uma queda de 0,02 ponto na dívida. Um ano antes, em abril de 2005, provocava alta de 0,06 ponto O que causou a mudança foi a agressiva política de compra dólares pelo BC, o pagamento antecipado de dívidas e a venda de "swaps" cambiais reversos.

A crise terá efeitos na dívida, porém, se o BC reduzir os juros menos que o esperado. Uma taxa 1% maior, se mantida por um ano, provoca alta de 0,29 ponto na dívida. Ainda assim, houve melhora em relação a abril de 2005, quando subia 0,34 ponto. (AR)