Título: Empresário saúda alta do dólar e descarta inflação
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Brasil, p. A3
O empresariado vê com tranqüilidade a turbulência do mercado financeiro. A alta do dólar para a casa de R$ 2,30 a R$ 2,40 é saudada pelo setor produtivo, que descarta pressões inflacionárias se o câmbio se mantiver nesses níveis.
"O dólar a R$ 2,40 não tem nenhum prejuízo para a economia, só benefícios", disse ontem o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, no Congresso da Indústria, na capital paulista. Para ele, não há "nenhum" risco de essa alta do dólar pressionar a inflação.
O ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex) Roberto Giannetti da Fonseca disse que é um "mito" a idéia de que a recente desvalorização do câmbio vai trazer mais inflação. "Com raríssimas exceções, eu não conheço importadores que tenha baixado o preço por causa do dólar de R$ 2,05 (cotação que vigorou no começo do mês)", afirmou ele. "Ele sabia que essa é uma taxa falsa." Para Giannetti, a maior parte dos importadores calcula seus custos com um dólar bem mais caro, entre R$ 2,50 a R$ 2,60.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, também disse que o câmbio na casa de R$ 2,40 seria mais adequado para a indústria, por melhorar a competitividade da economia. Assim como Skaf e Giannetti, ele descarta um repique inflacionário se o câmbio ficar por aí. Para ele, o dólar de referência da indústria é R$ 2,30.
Mas Costa vê com ceticismo o pulo do câmbio, apostando que a moeda vai voltar a cair. Por isso, tem reservas em comemorar o dólar a R$ 2,30 ou R$ 2,40. "Esse movimento não me parece sustentável", afirmou ele, por acreditar que a turbulência não vai durar muito.
O ex-ministro Delfim Netto também participou do evento. Criticou a valorização do câmbio, lembrando que muitas crises brasileiras começaram com a apreciação do real. Delfim atacou também a forte volatilidade da moeda brasileira. "O ministro Palocci dizia que o câmbio flutuante flutua, mas no Brasil ele afunda ou voa", brincou, acrescentando que os juros elevados transformaram o real na "commodity" mais atraente e rentável do planeta.
Delfim fez uma avaliação pessimista do cenário externo. Disse que os desequilíbrios americanos não vão se resolver apenas por meio da desvalorização do câmbio. Em algum momento, haverá um ajuste mais forte que passará por uma recessão. "Se o mundo crescer menos, o Brasil vai crescer menos", disse, ressalvando que o país está menos vulnerável.
O embaixador Rubens Ricupero também comentou a turbulência externa, defendendo a tese de que, para o Brasil, seria melhor que o ajuste dos desequilíbrios americanos esteja realmente começando. "Quanto mais cedo esse processo se iniciar, mais ordenado e controlado ele será."
A Fiesp dá continuidade hoje ao Congresso da Indústria, em que se discutem propostas estruturais para a retomada do crescimento, abrangendo questões como comércio exterior, gastos públicos, competitividade e tecnologia. A idéia é entregar as propostas aos candidatos à presidência e ao governo de São Paulo em junho ou julho.