Título: Barraco na campanha
Autor: Medeiros, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 17/08/2010, Cidades, p. 23

O ataque de Roriz ao PT no fim de semana para na Justiça. A defesa de Agnelo entra hoje com uma ação contra o candidato, que comparou o vermelho do partido à cor de satanás

Os ataques disparados pelo candidato do PSC ao Buriti, Joaquim Roriz, contra o Partido dos Trabalhadores viraram briga judicial. No fim de semana, o ex-governador subiu o tom contra seu principal adversário nas urnas, o candidato Agnelo Queiroz (PT), e comparou, durante um comício no Itapoã, o vermelho usado pelos petistas com a cor do satanás. Disse ainda que, no governo do PT, pode-se matar, roubar e estuprar. Os advogados de Agnelo usarão as novas farpas para sustentar uma ação contra Roriz, que será ingressada hoje na Justiça. Caso o ex-governador confirme no Judiciário o que foi dito em público, a defesa de Agnelo pedirá indenização por danos morais.

Parte do discurso de Roriz no Itapoã foi publicada pelo Correio na edição de domingo último. No dia anterior, o candidato do PSC fez um pronunciamento inflamado para uma plateia composta por cerca de 2 mil pessoas. O ex-governador chegou à cidade à tarde, logo depois da saída de correligionários petistas. Aqui passou a bandeira vermelha. Xô, satanás!, disparou Roriz, pedindo que as pessoas replicassem a última frase. O ex-governador mostrou fotos de derrubadas na antiga invasão durante o governo de Cristovam Buarque (PDT), hoje candidato à reeleição para o Senado. Os vermelhos estão perdendo tempo aqui (no DF). No governo do PT pode matar, roubar e estuprar. No Itapoã, não tem bandeira vermelha, aqui a bandeira é azul, alfinetou.

Ontem, ao inaugurar um comitê majoritário no Núcleo Bandeirante, Agnelo Queiroz considerou um crime o que o adversário falou contra o PT e disse que as acusações são uma incitação à violência. São ataques de desespero. É uma grande irresponsabilidade fazer esse tipo de citação. Uma incitação à violência, analisou. Agnelo enfatizou que não seguirá o modelo adotado por Roriz para fazer campanha. No programa eleitoral, que começa hoje, ele disse que não usará o tempo para fazer ataques ao concorrente, e, sim, dará visibilidade à aliança feita com os 11 partidos que ainda é malvista por militantes mais ferrenhos. Vamos explicar direito (a aliança) para as pessoas. O que é ponto negativo para alguns, será ponto positivo para nós, afirmou Agnelo.

Danos morais Segundo o advogado Claudismar Zupirolli, que faz parte da equipe jurídica de Agnelo, a interpelação judicial é o instrumento legal para apurar se Roriz realmente fez as afirmações contra o PT em discurso. Se ele confirmar, evidentemente, caracterizam-se crimes de calúnia e difamação, disse. Ele considerou ofensivas as acusações contra o cliente. Vamos entrar com ações penal e por danos morais, afirmou. Para Eládio Carneiro, um dos advogados de Roriz, as frases pontuadas no discurso do ex-governador não podem ser tratadas como crime. Isso é retórica normal de palanque que reporta a situações históricas da origem de Agnelo, que era um comunista. Que eu saiba os comunistas perseguiram a Igreja e renegaram a Deus, argumentou Carneiro.

Em visita ao Mercado do Núcleo Bandeirante, na manhã de ontem, Roriz voltou a dizer que vai dançar conforme a música durante a campanha. Ou seja: só atacará os adversários(1) se for atacado. Cada candidato tem um ponto para ser criticado e atacado. Temos o ataque e a Justiça para nos defender. Mas vamos agir com cautela, explicou.

O cientista político Octaciano Nogueira, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o candidato que desqualifica o concorrente perde pontos com o eleitor. Ele não pode esperar recompensa nas urnas e, sim, uma condenação. Esse comportamento atenta conta a cultura cívica do povo brasileiro. Mostra o nível chulo, pobre e sem nenhuma criatividade das campanhas, criticou. Na opinião do cientista político David Fleischer, também da UnB, esse tipo de acusação demonstra a falta de propostas e de ideias dos candidatos. A única estratégia disponível que eles têm são as agressões. Ele (Roriz) acha que o povão vai entender isso, mas a conduta enfraquece a democracia, afirmou.

1 - Militantes As provocações dos apoiadores de Roriz contra os adversários foram vistas na última quinta-feira, quando os candidatos ao GDF participaram no primeiro debate de televisão. Na frente do prédio onde os concorrentes estavam, no Setor Comercial Sul, rorizistas queimaram bandeiras do PT.

Aqui passou a bandeira vermelha. Xô, satanás! No governo do PT pode matar, roubar e estuprar. No Itapoã, não tem bandeira vermelha, aqui a bandeira é azul

Joaquim Roriz, candidato do PSC, durante discurso no sábado no Itapoã

O número

FALTAM

47 dias

Para o 1º turno

Colaboraram Flávia Maia e Juliana Boechat

Memória

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Não é a primeira vez que Joaquim Roriz solta a verbo em público contra os adversários. O estilo agressivo já foi utilizado em outras ocasiões. Em 14 de agosto de 2003, Roriz chamou o ex-governador Cristovam Buarque de assassino e de uma pessoa que não gosta de pobres. O discurso contra o então petista foi pronunciado no Itapoã, mesma cidade em que Roriz comparou o vermelho do PT à cor de satanás no último fim de semana.

Cristovam pediu indenização de R$ 50 mil contra Roriz, que negou ter dito as palavras argumentando que não poderia ser responsabilizado pelas notícias veiculadas em jornal. Na ocasião, Roriz inaugurava uma obra pública e lembrou aos presentes sobre um confronto na Estrutural. Segundo a transcrição do discurso e a matéria veiculada pela imprensa, o réu disse: O governador (Cristovam) é chefe da polícia, obrigou a polícia a ir pra lá e assassinou seis pessoas (...).

Em fevereiro de 2002, Roriz patinou mais uma vez com as palavras e, mesmo pedindo perdão em público, não conseguiu consertar o fato de ter chamado o aposentado Marinaldo Marcelino do Nascimento de crioulo petista. Durante um discurso em Brazlândia, ele pediu uma salva de vaias para o crioulo petista e orientou que as pessoas expulsassem de casa quem fosse contra ele. O PT entrou com ação penal contra o candidato. (LM)