Título: PMDB adia convenção e compromete ainda mais candidatura própria
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Política, p. A5
Numa sessão difícil, em que se destacaram os insultos e socos na mesa, a Comissão Executiva do PMDB aprovou, ontem, em Brasília, por 11 votos a 5, a transferência da convenção do partido do dia 11 para 29 de junho, véspera do fim do prazo para as convenções estaduais. Foi mais um golpe contra a candidatura própria do partido que, ontem, também, havia ganho impulso com o lançamento da chapa Pedro Simon, para presidente, Anthony Garotinho, para vice.
Os governistas do partido, vitoriosos, estão contando com as convenções estaduais para antes do dia 29, na esperança de que as mais variadas alianças nos Estados joguem uma pá de cal na candidatura própria, numa espécie de verticalização ao contrário.
Ocorre, porém, que o estatuto do partido tem normas que exigem a racionalidade das definições, prevendo, primeiro, que seja feita a convenção nacional, e depois as estaduais. Com a decisão de ontem, os Estados só teriam o dia 30 de junho, último dia do prazo, para realizar as suas convenções.
Os partidários da chapa Simon-Garotinho vão recorrer à Justiça contra a mudança na data da convenção para o dia 29, e ainda estão analisando o tipo de ação a ser feita. Acreditam os que defendem a candidatura própria que terão o apoio dos Estados, pois será muito difícil fazer as convenções estaduais todas no dia 30. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), diz que poderá entrar com uma ação em cada Estado para que todos cumpram o estatuto e nenhum faça a convenção antes da convenção nacional.
Com a legislação em vigor, qualquer convenção estadual realizada antes da convenção nacional pode ser considerada nula. Esses argumentos devem ser levados à Justiça para, inclusive, tentar manter, na data do dia 11, como estava marcada, a convenção nacional. Os governistas do partido confiam que vencerão todas as disputas judiciais e se dizem pouco preocupados com a exigência do Estatuto para que as convenções estaduais sejam feitas depois da nacional. "Quem tiver medo da Justiça, que faça no dia 30. Mas pode-se fazer antes do dia 30", afirmou o deputado Geddel Vieira Lima (BA), aliado recente dos senadores Renan Calheiros e José Sarney, que comandam a derrubada da candidatura própria.
A reunião da Executiva durou mais de uma hora. Antes dela, Simon e Garotinho haviam registrado, na sede do PMDB, a chapa para disputar a sucessão presidencial, em um ato de que participaram líderes de outros partidos. Os dois pemedebistas fizeram duras críticas aos que tentam golpear a candidatura própria. Pedro Simon disse que os governistas do partido só estão preocupados em manter cargos e benesses do governo federal. Simon disse estar triste com o caminho que o país e seu partido estão tomando e por isso aceitou lançar seu nome para disputar a Presidência.
O senador gaúcho citou nominalmente os senadores governistas Renan Calheiros, presidente do Senado, e José Sarney, dizendo que eles estão vendendo a alma do PMDB em troca de interesses pessoais. Simon disse que procurou os dois para dizer que era preciso um nome do PMDB para disputar a Presidência, mas ambos disseram que não era o momento. Para Simon, eles trocam interesses pessoais e estão vendendo a alma do PMDB. "Um grupo que veio fazer negócio em nome do PMDB. Temos que saber quem é o PMDB. Eles estão botando ovo no ninho errado".
O senador gaúcho disse ainda que há uma grande desilusão com o governo Lula e o povo espera por um nome do PMDB, já que o PT e o PSDB já mostraram que não têm condições de atender às demandas do país: "Há um sentimento de perplexidade, de interrogação. A desilusão com o governo do PT é tão grande que o pessoal está tonto e não vai esperar que o PSDB faça agora o que não fez em oito anos. Eles estão é de olho no PMDB". Simon disse que percorreu o país e viu que as bases querem a candidatura própria.
"Presidente Temer, o senhor tem que defender o nosso partido. Não pode deixar que primeiro se realizem convenções estaduais, antes da nacional. Estamos lançando um caminho que é de paz, não é de guerra, mas estamos dispostos a enfrentá-los", disse Simon. O senador lembrou ainda que Garotinho, que tem cerca de 15% das intenções de voto, demonstrou "grandeza" ao ceder a cabeça da chapa e aceitar a vice. Em discurso, Garotinho disse que desistiu da cabeça da chapa porque as resistências eram fortes demais e ele chegou ao seu limite: "Os governistas não têm projeto para o país. Eles querem apoiar o governo Lula por causa de cargos e benesses". (Com agências noticiosas)