Título: Alckmin tenta acalmar divergências
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Política, p. A6

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, atribuiu ontem ao "estresse de campanha" as divergências entre seu partido e PFL e considerou-as "passageiras". Enquanto alguns tucanos e pefelistas tentavam apaziguar os ânimos, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), voltou à carga e fez novas críticas à estratégica tucana para a pré-campanha presidencial. Em entrevista à rádio CBN, Maia cobrou maior participação do seu partido na condução da campanha, disse que o PFL não aceita "entrar na garupa" e considerou um "equívoco" as articulações do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), para atrair outros partidos para a aliança nacional, como PPS e PDT.

Ao saber das novas declarações do prefeito, Tasso reforçou a cobrança pelo fim dos ataques públicos dos pefelistas. "Reclamação se faz dentro de casa. Crítica externa não é coisa de aliado. É coisa de infiel", afirmou. Pouco depois, acrescentou: "Gente para dar opinião, tem muito. Mas, para trabalhar dia e noite, não tem".

Hoje, o pré-candidato a vice-presidente na chapa PSDB-PFL, senador José Jorge (PFL-PE), vai ao Rio conversar com o prefeito, para pedir abrandamento das críticas. "Enquanto não se resolvem as questões estaduais, teremos problemas", disse. No Rio, o PSDB lançou o deputado federal Eduardo Paes pré-candidato a governador, depois que Maia havia lançado o deputado estadual Eider Dantas na disputa.

Tucanos e pefelistas mostraram ontem nova divergência: enquanto José Jorge defendeu a tese de Maia a favor de mais candidatos a presidente, com o argumento de que isso pode levar a disputa para o segundo turno, Alckmin apoiou a estratégia de Tasso. "Penso diferente: quanto mais forte estiver a aliança, melhor para a candidatura. Se depender de mim, o PPS vem junto", afirmou Alckmin. O presidente do PSDB reafirmou sua posição. "Eu adoraria o PPS conosco. É um partido mais à esquerda. Ampliaria o ideário político", disse Tasso.

Alckmin, que passou o dia em Brasília, afirmou que os atritos entre tucanos e pefelistas são "passageiros" e não irão abalar a candidatura. "Nossa campanha é como o mandacaru (cacto típico do Nordeste brasileiro). Cresce na adversidade, na dificuldade", disse.

Uma das estratégias para tentar melhorar a relação entre os dois parceiros na aliança nacional será a criação de um conselho político da campanha, que terá sua primeira reunião na terça-feira. Segundo Tasso, o conselho vai "aconselhar a gerência da campanha e dar o toque político necessário".

Proposto por Bornhausen, o conselho será coordenado por Alckmin e terá 12 integrantes: os presidentes dos dois partidos, os três líderes na Câmara (do PFL, do PSDB e da minoria) e os três no Senado, os coordenadores já designados - senadores Heráclito Fortes (PFL-PI) e Sérgio Guerra (PSDB-PE) -, o pré-candidato a vice e o próprio Alckmin. "É natural que tenha um conselho político. Ele vai aparando as arestas e vai ajudar na condução da campanha", afirmou Alckmin.

O prefeito do Rio e seu filho, deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ), líder da bancada pefelista na Câmara, vêm criticando publicamente a estratégia tucana da pré-campanha. Irritado, o presidente do PSDB cobrou de Bornhausen, na terça-feira, que "desse um basta" nos ataques.

Em resposta, o dirigente pefelista amplificou a crítica dos Maia: "A campanha está improvisada e sem organização", disse. Bornhausen cobrou de Tasso a instalação do conselho político. Os emissários da proposta foram José Jorge e o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), que atuaram para baixar a temperatura da crise.

Um dos compromissos que Alckmin teve em Brasília foi uma conversa com o ex-governador de Sergipe Albano Franco (PSDB), que se nega a apoiar a reeleição do governador pefelista João Alves. O tucano admitia disputar o Senado apoiando a pré-candidatura do petista Marcelo Déda. Alckmin convenceu-o a desistir. "Eu cedi. Retirei minha candidatura. Eles não me deixam ser candidato ao Senado contra o PFL. Pensei que a cúpula do partido fosse menos intransigente", afirmou Albano.

Contestando opinião dos analistas sobre as pesquisas de intenção de voto divulgadas na véspera, que apontam a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vencer no primeiro turno, Alckmin se disse "otimista" com os resultados. Considerou positivo o crescimento de dois pontos percentuais registrados pelo Datafolha, apesar do seu alto grau de desconhecimento no eleitorado e da forte exposição de Lula no noticiário nacional. Ele espera crescer a partir do início oficial da campanha eleitoral.