Título: Turbulência pode atrapalhar planos de reforçar fundo europeu
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Fonte: Valor Econômico, 11/11/2011, Finanças, p. C1
A turbulência desta semana no mercado europeu tornou difícil aumentar o poder de fogo do fundo de socorro da zona do euro - de € 440 bilhões (US$ 600 bilhões) para € 1 trilhão - que os líderes do bloco esperavam, disse na quinta-feira o presidente-executivo do fundo.
Investidores mantiveram distância de títulos emitidos por países altamente endividados. Para atraí-los de volta mediante a oferta de seguros contra prejuízos - viga mestra de um plano acordado em Bruxelas em 26 de outubro - agora provavelmente exigirá o uso de mais recursos do fundo, disse Klaus Regling, diretor do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). As preocupações de Regling ressaltam as dificuldades encontradas pela Europa para colocar em prática mecanismos visando conter a crise da dívida soberana e, se necessário, ajudar a Itália a enfrentar os crescentes custos de refinanciamento.
"Acho que a turbulência política que vimos nos últimos 10 dias provavelmente reduzirá o potencial de alavancagem", disse Regling a jornalistas. "Foi sempre ambicioso chegar a esse número, mas não estou descartando-o."
A Comissão Europeia rebaixou drasticamente sua previsão de crescimento da zona do euro para o próximo ano - de 1,8% para 0,5%. As ramificações mundiais da crise econômica europeia ficaram mais claras com a desaceleração do crescimento das exportações da China para a UE em outubro e uma onda de vendas nos mercados de ações asiáticos.
O programa de garantia contra prejuízos visa alavancar os €250 bilhões restantes no fundo de estabilização para cobrir mais de quatro a cinco vezes o valor dos títulos do que se o fundo simplesmente adquirisse tais títulos. Mas Regling disse que o nervosismo dos investidores implica que as garantias agora terão de ser maiores, para convencer os investidores a participarem, o que significa que o fundo provavelmente terá apenas três a quatro vezes o poder de fogo.
Uma alavancagem dos minguantes recursos do fundo é a pedra angular de um plano contemplando ampliar a chamada "blindagem", para evitar que a turbulência em curso na Grécia contamine bancos europeus e as maiores economias europeias, especialmente a Itália. Uma das duas opções que estão sendo exploradas - um plano que algumas autoridades dizem ser o que está mais desenvolvido - garantiria os detentores de títulos italianos contra uma parte de seus prejuízos. Autoridades esperavam que novos investidores poderiam ser seduzidos por uma garantia contra um prejuízo de 20%, mas os investidores agora podem estar querendo até 30%, o que limitaria o poder de fogo ampliado do fundo para cerca de 800 bilhões de euros.
Regling disse acreditar que a confiança no mercado de títulos da zona do euro será restaurada nos próximos meses, especialmente depois que a turbulência política grega e italiana diminuir, e assim o fundo poderá chegar a € 1 trilhão em algum momento no futuro.
Com os novos poderes que foram lhe formalmente concedidos há três semanas, o fundo poderia ajudar a Itália rapidamente mediante a compra de títulos soberanos italianos em leilões, uma iniciativa que reduziria significativamente os custos de tomada de empréstimos por Roma. O próximo importante leilão de títulos da Itália acontecerá na segunda-feira.
Mas Regling se disse relutante em avançar tão rapidamente, uma vez que foi orientado a se concentrar no projeto de alavancagem antes de usar seus novos poderes. Se o fundo de estabilização ajudar a Itália antes de a alavancagem estar concluída, no próximo mês, o fundo seria forçado a usar seus próprios recursos, exaurindo ainda mais os € 250 bilhões que lhe restam. "Não estamos ansiosos por atuar na próxima semana, porque a alavancagem ainda foi estruturada", disse ele.
Christophe Frankel, diretor financeiro do fundo disse que está disposto a oferecer títulos soberanos para captar dinheiro rapidamente, e disse que essa oferta provavelmente acontecerá antes do fim do ano.