Título: O presidente onipresente
Autor: Iunes, Ivan; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2010, Política, p. 2

O alto índice de popularidade de Lula faz com que ele se torne referência obrigatória até para os adversários na corrida eleitoral

Principal cabo eleitoral da eleição de outubro, o presidente Lula se tornou, com o início do horário eleitoral gratuito, catalisador de votos também de seus adversários.

Virou paródia e jingle de José Serra (PSDB), apareceu de forma messiânica para pedir votos para Dilma Rousseff (PT) e foi tratado como astro de um time composto por deputados federais.

Todos tentando tirar uma lasquinha do alto índice de popularidade presidencial.

Luiz Gonzales, o marqueteiro de Serra, buscou criar através do nome uma fácil identificação com o eleitorado. Em um samba, Serra vira Zé, sucessor de Lula: Quando o Lula da Silva sair, é o Zé que eu quero lá () Pro Brasil seguir em frente. Sai o Silva e entra o Zé, diz trecho da música. Na eleição de 2006, Gonzales desenhou a mesma estratégia para Geraldo Alckmin (PSDB). Tentou vendê-lo como Geraldo, apesar de ele ser conhecido como Alckmin.

O programa da noite de Serra foi totalmente reformulado. Perdeu o tom corrido de apresentação de vários números para ser focado em saúde. A relação com Lula, bastante explorada na rádio e à tarde, saiu de cena. Tropeços, como relacionar como conquista a criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), algo desmentido pelos anais da Câmara, foram omitidos. O programa ganhou em dinâmica.

Sem precisar de arremedo, Dilma Rousseff valeu-se do próprio Lula. Primeiro de maneira cautelosa, dosando bem a imagem do presidente para não ofuscá-la. Depois mergulhando de cabeça na comparação, relação e ligação entre os dois. Dilma e Lula dialogaram nos extremos do país, as biografias foram comparadas e relacionadas e Lula apareceu elogiando a atuação da ex-ministra. Em todo o programa, a candidata aparece como a coautora das conquistas do governo Lula.

Enquanto Gonzales apostou num programa de linguagem jornalística com personagens para ilustrar as promessas e conquistas de Serra, João Santana, responsável pelo marketing de Dilma, fez um programa com dinâmica de cinema graças ao investimento em câmeras de última geração que comprou quando fechou contrato com o PT.

Diferente da primeira inserção na televisão, quando Lula apareceu só depois dos seis minutos, o presidente foi mais explorado na segunda versão. Santana destrinchou a biografia de Lula da infância à Presidência e criou laços com Dilma, sobretudo na questão da ditadura militar (1964-1985). No primeiro programa, a atuação da petista contra o regime, incluindo sua prisão, foi mais explorada.

As peças de rádio e televisão terminaram num jingle em formato de um pseudo-poema musicado, quase messiânico, como se fosse o próprio Lula declamando: Deixo em tuas mãos o meu povo, mas só deixo porque sei que vais continuar o que fiz.

O tom emotivo permeia todo o programa de Dilma. Na primeira versão, a petista aparece brincando com seu cachorro, o Nego, herdado do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu.

Na campanha norte-americana de 2008, Barack Obama prometeu que compraria um cachorro para as duas filhas. Na época, especialistas da eleição dos EUA disseram que por trás do ato houve uma ação marqueteira para ajudar a humanizar a percepção do público. Obama acabou adotando depois da vitória um animal da raça portuguesa cão dágua.

Catastrofismo Marina Silva e Plínio Sampaio tiveram pouco tempo disponível.

A candidata do PV apresentou, em 1min23s, um discurso reafirmando a bandeira ecológica, com dados sobre aquecimento global e desenvolvimento sustentável, num programa com tom catastrófico. Plínio, do PSol, com ainda menos tempo que Marina, 1min5s, criticou as propostas dos concorrentes.