Título: Cativar fiéis e exorcizar rejeições
Autor: Iunes, Ivan; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2010, Política, p. 2

Na estreia do horário eleitoral gratuito, Serra, Dilma, Marina e Plínio apostam em reforçar apoios entre os simpáticos às próprias candidaturas e tentam derrubar estereótipos que limitam as campanhas

Cativar fiéis e exorcizar rejeições

Os primeiros 25 minutos com os presidenciáveis em rede nacional mostraram que a palavra de ordem no início do horário eleitoral é suavizar pontos de rejeição e consolidar o eleitorado já simpático aos candidatos. O plano é tentar blindar cada um dos principais postulantes ao Planalto para, somente depois, tentar abocanhar votos dos rivais. Os adversários na corrida à Presidência tentaram amenizar a imagem perante o eleitorado e fixar o que consideram os pontos fortes para atrair votos. José Serra (PSDB) falou de saúde e sambou numa favela de estúdio, Dilma Rousseff (PT) foi apresentada por Lula e brincou com o cachorro Nego, e Marina Silva (PV) assumiu a verve ambientalista.

Exceção à regra, Plínio manteve a coerência de suas propostas radicais. O Correio assistiu às cenas com um eleitor característico de cada candidato. Uma educadora de classe média, moradora de Taguatinga, de 51 anos, opinou a cada frase de Serra. Do lado de Marina, quem não piscou diante da tela foi um advogado de 32 anos ligado a uma ONG da Asa Norte. Pela campanha de Dilma, o termômetro foi um jovem em busca do primeiro emprego no Novo Gama (GO). Uma militante do PSol opinou sobre Plínio.

Dilma Rousseff (PT)

Morador do bairro Pedregal, no Novo Gama, Daniel Bruno da Silva, 18 anos, não está preocupado com o passado dos candidatos.

Nem tampouco com a biografia, uma das prioridades do programa eleitoral da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Até porque se você for olhar o que está guardado no baú dos políticos, não sobra um, diz, enquanto assiste, em casa, ao horário gratuito. A Dilma está preparada.

O próprio presidente falou e com uma indicação dessas não dá para questionar. A presença de Lula no programa, segundo o jovem, legitima a candidatura petista.

Não dá para negar que o Lula fez muita coisa e agora é hora de mudar ainda mais com uma mulher na Presidência, afirma. O discurso de Daniel combina com aquele apresentado pelo PT. No programa, Dilma é apontada como a primeira mulher a ocupar os cargos de secretária da Fazenda em Porto Alegre, de Minas e Energia do governo do Rio Grande do Sul e os ministérios de Minas e Energia e Casa Civil.

Para Daniel, o que importa mesmo é o futuro.

O jovem terminou o ensino médio e ainda não conseguiu o primeiro emprego.

Queria fazer um curso profissionalizante.

Como a Dilma falou que gostava de estudar no programa eleitoral, acho que ela vai investir nisso. Entre as propostas da ministra, está a criação de escolas técnicas em todos os municípios a partir de 40 mil habitantes.

O jovem músico também cobra ações de incentivo à cultura e ao lazer e de combate à criminalidade. (AR)

José Serra (PSDB)

Desde que votou pela primeira vez, em 1989, Maria Conceição Barbosa, 51 anos, vai às urnas para tentar eleger candidatos tucanos.

De Covas a Alckmin, todos receberam o voto da educadora carioca, há 28 anos em Taguatinga. A funcionária de uma escola particular almoçou mais cedo para acompanhar a estreia na televisão de José Serra, a quem chama de meu tucano preferido. Depois de Serra abrir o horário em rápido discurso, a eleitora postou as mãos sobre as pernas. Nervosismo? Nem pensar. À medida que o candidato falava, Conceição levantava a mão, com o indicador apontado para a tela: Olha a diferença. Serra fala bem, é simpático, é centrado, elogiava.

Com o fim do programa, o tucano sambando em uma favela de estúdio, a atuação do presidenciável cativou sorrisos, mas mereceu uma ressalva. Faltou falar um pouquinho de educação, né? Mas pelo menos ele se dedicou à saúde, que anda um caos, apontou.

Depois que o tucano preferido saiu de cena, veio a hora de assistir aos rivais. Como é que alguém tenta se eleger com esse jingle, diz, em referência a Eymael. Minutos antes de o programa de Dilma começar, Conceição arrisca: Ela é grossa, não vai passar a imagem de equilibrada. Seis minutos depois, uma Dilma simpática no vídeo surpreende.

Deve estar bem treinada, ironiza. Depois que o programa relâmpago de Marina (PV) termina, a sentença final. Não há uma mulher preparada para a Presidência, hoje, embora eu ache importante isso ocorrer no futuro.

O mais preparado é Serra. (II)

Marina Silva (PV)

Em casa, na hora do almoço, o advogado Guilherme Eidt Gonçalves, 32 anos, se mostrava sem muito apetite para os primeiros programas dos presidenciáveis na TV. Ele prefere os debates, até por causa da injusta na visão do advogado distribuição do tempo da propaganda eleitoral. Guilherme tem seu voto quase certo: deve digitar o número de Marina Silva (PV ) nas urnas. E, mesmo sem apetite, esperou com ansiedade o que a candidata reservou para os 83 segundos que tem na TV.

O eleitor gostou do que viu sobre Serra (PSDB). Achou melhor ainda o tom emotivo do programa de Dilma (PT). Quando teve início a overdose de imagens e de informações sobre desastres ambientais, narradas por Marina, Guilherme se prendeu mais à TV.

Não houve surpresa, como a candidata prometeu. Quem não conhecia Marina, continua sem conhecê-la ela só apareceu de fato no fim da propaganda, por apenas quatro segundos, para dizer Eu sou Marina Silva, candidata à Presidência do Brasil. Mesmo assim, Guilherme gostou do que viu. Achou coerente com o que esperava.

As imagens têm tudo a ver com o que a gente está vendo no noticiário, como as enchentes no Paquistão, as chuvas no Nordeste, a seca da Amazônia em 2008. Para Guilherme, que trabalha numa ONG de defesa da saúde pública e que tem sintonia com as causas ambientais, Marina acertou em optar pelo discurso da sustentabilidade. É o que cabe a ela, senão fica muito parecida com Serra e Dilma. (VS)

Plínio Arruda (PSol)

Militante do PSol há pouco mais de um ano, Poliana Faria Santos avaliou que o primeiro programa do candidato a presidente de seu partido, Plínio Arruda Sampaio, mostrou temas que outros postulantes ao Planalto não apresentaram. Ele defendeu o que são seus dois principais eixos, as reformas agrária e urbana, observa Poliana, de 24 anos, moradora de Vicente Pires e que trabalha como professora quando não está na militância política.

O primeiro programa de Plínio mostrou sua trajetória, principalmente voltada para a questão agrária, uma bandeira defendida também quando era do PT, como Poliana, que deixou o partido do governo pelo PSol. Ele tem uma ligação grande com a reforma agrária e tornou isso seu ponto principal, colocando o assunto de forma concreta, o que os outros candidatos não fizeram, observa a professora. Poliana também elogiou o fato de o candidato ter explorado a questão do financiamento público de campanha.

Para a militante, o fato de Plínio ter defendido programas diferentes dos demais pode ser o principal diferencial. Ele mostrou propostas diferenciadas, disse Poliana, observando que uma delas foi a auditoria da dívida brasileira. Todas as principais propostas (mostradas no horário eleitoral) se casam entre si, diz a professora, ressaltando que o partido soube montar um programa bom, apesar do pouco tempo um minuto em relação aos demais. Achei ótimo, principalmente porque ele está defendendo seus principais eixos sempre. (EL)