Título: PV suspende candidatura de advogado acusado
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Política, p. A7
Prensados entre a verticalização das coligações e a necessidade de cumprir a cláusula de barreira de 5% este ano, os pequenos partidos tornaram-se os mais vulneráveis à infiltração de candidatos suspeitos de ligações com o crime organizado. Em São Paulo, o PV tornou-se o foco das atenções logo após os ataques do PCC ao suspender, depois de alertado pelo governo estadual, a candidatura a deputado estadual do advogado José Claudio Bravos. Mesmo inocentado pelo tribunal de Ética da OAB, Bravos foi acusado pelo governo estadual de suspeito de ligações com o PCC.
"O PV se descaracterizou, como todos os demais partidos obrigados pela legislação eleitoral a um crescimento que os torna semelhantes em tudo. O partido acaba se abrindo demais ou fazendo associações furadas", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que agiu para que a candidatura de Bravos fosse bloqueada.
Para chegarem perto dos 5%, os partidos pequenos lançam o maior número possível de candidatos para chapa proporcional, filiando personagens que possam ajudar a atingir o quociente eleitoral. O advogado suspeito não forçou a porta para entrar no PV. Foi convidado a ingressar pelo Diretório Municipal de Marília e negociou a candidatura previamente.
Só em São Paulo, o PV elegeu em 2002 dois deputados federais e cinco estaduais. Passou de quatro para 15 prefeitos na última eleição municipal. Em âmbito nacional, conta com sete deputados federais e 55 prefeitos. "No regime de exceção havia um filtro para a entrada. Hoje, qualquer um entra no PV, a não ser que seja uma pessoa com imagem pública contrária à nossa conduta. Somos um partido do mundo real", diz o presidente nacional da sigla, José Luiz Penna.
Sem candidato a presidente, o partido deve fazer arranjos regionais variados nesta eleição. Em São Paulo, concorre com candidato próprio. No Maranhão, onde é controlado pelo deputado Sarney Filho, apoiará a candidatura da senadora Roseana Sarney (PFL). No Rio, caminha para apoiar Denise Frossard (PPS).
Professor universitário e presidente licenciado da seccional da OAB em Marília, Bravos é um conhecido defensor dos direitos de presidiários e familiares. Acha que o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), "mereceria ser rediscutido" e articulou no ano passado uma passeata com 4 mil manifestantes em frente à Secretaria da Administração Penitenciária, em São Paulo. A complexa organização do evento, com 210 ônibus fretados, chamou atenção do governo e o secretário da pasta, Nagashi Furukawa, denunciou-o à OAB por associação com o PCC. Bravos foi absolvido.
A operação contra a candidatura do advogado começou na semana dos incidentes em São Paulo, quando Gabeira foi recebido em audiência pelo governador paulista Cláudio Lembo. Durante o encontro, Lembo informou a Gabeira sobre as suspeitas antigas que pesavam contra Bravos. O deputado fluminense procurou então o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, e o deputado federal Jovino Cândido (SP) para barrar a candidatura de Bravos.
Em uma reunião na segunda-feira, a candidatura foi sepultada. "Cumprimos o ritual, em sessão aberta, mas já estávamos atentos a este problema. A publicidade dada ao caso apenas apressou a nossa posição pela impugnação", disse Cândido. "A candidatura está suspensa", disse Penna.
Bravos nega o apoio do crime organizado. "Nunca conversei com alguém que se identificasse como sendo do PCC", afirma. Mas admite que suas iniciativas podem convergir com os interesses da organização. " Em que consiste a aeticidade de um manifestante se o PCC apoiar uma manifestação legítima?", indaga, referindo-se à passeata do ano passado que o colocou em rota de colisão com o governo paulista.
O advogado afirma que os familiares de presos não têm defesa política consistente. "Se a Fiesp tem seus candidatos, os negros, os comerciantes, porque os familiares dos presos não podem ter a sua representação?", pergunta. (CF)