Título: Trabalho em família
Autor: Meirelles,Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2011, Especial, p. G1

Já foi o tempo em que falar de previdência era conversa de velho. Preocupados com o futuro de seus descendentes em uma época em que os ciclos de instabilidade econômica se tornam mais frequentes, famílias buscam nos planos de previdência privada alternativas seguras para garantir a educação dos filhos. Lançados no fim da década de 90, os chamados planos para menores de idade crescem a olhos vistos e hoje ganham espaço na carteira de investimentos dos brasileiros, não apenas por sua finalidade, como também pelos benefícios fiscais e tributários na hora de acertar as contas com o Leão.

De acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), os planos voltados para jovens crescem em média 20% ao ano. E já representam 3,27% do total de depósitos realizados nos primeiros meses de 2011. Pode parecer pouco em um universo onde predominam os planos individuais voltados para aposentadoria e os planos empresariais. Mas, há que se considerar que o "boom" dos planos começou apenas por volta de oito anos atrás, quando entraram em vigor as regras que criaram os produtos Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) e Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL). O primeiro, indicado para quem faz a declaração simplificada ou é isento do Imposto de Renda, e o segundo, opção melhor para quem faz a declaração completa, sendo dedutível em até 12% da base tributável.

Assim, passou a ser interessante ao pai que é contribuinte incluir o filho como beneficiário de um plano de previdência ou até mesmo abrir um plano em nome do menor, o que garante um desconto na declaração até ele completar 21 anos, ou até mesmo 24 anos, caso esteja cursando uma faculdade. "Este benefício, aliado aos objetivos do plano, proporcionaram um apelo de marketing forte por parte das instituições financeiras", afirma Renato Russo, vice-presidente da Fenaprevi.

Para o executivo, o plano está ligado diretamente ao conceito de educação financeira, na medida em que o objetivo primordial é garantir a formação educacional. E com um diferencial dos planos convencionais de aposentadoria. "Nos planos para jovens, você pode agregar outros produtos de cobertura de risco, como pecúlio (pagamento do benefício em caso de morte do responsável) ou uma pensão mensal até a data prevista para encerramento das contribuições do plano, em caso de falecimento do pai", diz.

No momento da contratação de um plano para o filho, o pai deve ter bem claro o período em que estará fazendo os seus aportes e a data de concessão do benefício (chamado período de diferimento). Por exemplo, um pai decide abrir um plano para o filho que nasceu em 9/11/2011, e fixa como data de recebimento do benefício o ano de 2032, quando ele tiver 21 anos.

O valor almejado para a época é de R$ 250 mil, com rendimento anual de 9%. Para alcançar este objetivo, ele terá de fazer aportes mensais médios de R$ 368,00, sendo que estes valores podem sofrer alteração conforme o plano escolhido. Sim, por que os planos de previdência são atrelados a fundos de investimentos geridos pelas próprias instituições. Esses fundos podem ser conservadores (compostos por 100% de renda fixa), moderados (em torno de 15% de renda variável) ou agressivos (com até 49% de renda fixa, conforme a instituição). "Mas a maior concentração fica nos planos apoiados por renda fixa. Na hora de administrar os recursos dos filhos, os pais são mais conservadores", afirma Edson Lara, diretor de seguros do HSBC.

A mesma situação se observa junto aos clientes do plano Crescer, da Caixa Seguros. "Mais de 70% dos clientes estão em produtos de renda fixa", afirma Juvêncio Braga, diretor de previdência.

Empenhados em conquistar novos clientes, os bancos não economizam em soluções criativas. Com uma carteira de aproximadamente 400 mil planos para menores, o Itaú desenvolveu um produto batizado como Fases da Vida, no qual a composição dos recursos é alocada em renda fixa e variável conforme vai se aproximando a data final do plano. "Como é um investimento de longo prazo, você sempre tem tempo de recuperar eventuais perdas no meio do caminho", afirma Osvaldo Nascimento, diretor executivo de produtos de investimento e previdência do Itaú-Unibanco.

Disposto a investir nesse nicho, o Icatu vai lançar em dezembro o plano Prev Junior, com duas modalidades de fundos, visando atingir o público capaz de pagar um tíquete mensal de R$ 150. Segundo Plínio Sales, diretor de previdência do Icatu, estudos feitos pela companhia apontam que a tendência dos pais é abrir um plano a partir da idade de 3 anos, o que garante para a instituição a manutenção do cliente por pelo menos 20 anos.

Segundo Carolina de Molla, diretora de pessoas e previdência da SulAmérica, a idade média das crianças para contratação do plano Educaprev gira em torno de 7 anos. Lançado em 2008, o plano teve crescimento de 53% entre janeiro e agosto, comparado com igual período de 2010. Entre os diferenciais, diz Carolina, está o serviço agregado Escola On Line, que fornece conteúdo interativo na internet para diversas idades, até o período pré-vestibular.

Todas as instituições enfatizam que se trata de um investimento de longo prazo. No caso dos planos de previdência, não compensa fazer retiradas em curto ou médio prazo, por conta da tributação.