Título: Copa aquece consumo de carne, petiscos e bebidas
Autor: Eliane Sobral e Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Empresas, p. B6

Pode até chover e fazer frio no Brasil inteiro em junho - e quem sabe, no dia 9 de julho - que a carne do churrasco e as bebidas já estão garantidos para que os torcedores acompanhem os jogos da Seleção Brasileira. Só o Grupo Pão de Açúcar encomendou 400 toneladas de carne para churrasco. É o que a rede de supermercados prevê vender apenas no dia 18, um domingo - quando o Brasil enfrenta a Austrália, bem na hora do almoço.

Sylvia Leão, do Pão de Açúcar, espera vender 400 toneladas de carne no dia 18, quando Brasil enfrenta a Austrália Segundo a diretora da área de perecíveis do grupo, Sylvia Leão, a encomenda representa crescimento de 35% se comparado a um domingo sem Copa do Mundo e sem Seleção Brasileira.

Além do tradicional churrasco, a rede também está apostando na boa e velha feijoada para o jogo do domingo. No Sul e Sudeste as vendas de itens para este prato devem crescer 50%".

Mas nem só de churrasco vive o torcedor e é preciso abastecer o armário para os jogos que acontecem nos dias de semana. Só nesta primeira fase do Mundial, o Brasil joga em dois dias de semana - a estréia acontece numa terça-feira e o último jogo numa quinta. "Aí são as vendas de salgadinhos que explodem. Chegam a aumentar entre 40% e 50%", diz a executiva.

A Bauducco, dona da marca Fritex, está otimista e espera que a Copa mude a curva de sazonalidade de salgadinhos, que têm uma queda das vendas entre junho e julho por conta das férias escolares. Segundo Cláudio Fontes, diretor da Bauducco, a estimativa é de um crescimento de 20% sobre os cinco primeiros meses do ano.

A Perdigão aposta nas pizzas e produtos de preparo rápido, como bolinhos, salgadinhos e chicken pop corn (frango empanado em cubos, que lembram o formato de pipoca). "Estimamos um aumento de cerca de 12% nas vendas", diz Antonio Zambelli, diretor de marketing da Perdigão.

Sylvia Leão, do Pão de Açúcar, divide as vendas diretamente ligadas à Copa do Mundo têm três fases. A primeira é a dos eletroeletrônicos, com destaque para os aparelhos de televisão. De acordo com estimativas dos fabricantes, as vendas de TV já subiram 50% nos cinco primeiros meses deste ano. Só de TVs de plasma e LCD já foram vendidas 350 mil unidades.

O segundo momento é o de artigos de vestuário. "Vende-se até panos de prato com motivos da Copa". A terceira fase é a que acontece no momento da Copa e é a hora dos alimentos e bebidas.

Há uma aposta grande na venda de refrigerante, principalmente por conta do público infantil que será privilegiado com o horário dos jogos. Nesta categoria, Sylvia estima que as vendas cresçam 30%.

Já para o mercado de cervejas e chope a previsão é um pouco mais complicada e nesse caso específico, há duas possibilidades. Se a temperatura se mantiver baixa, como está, as vendas de cerveja devem crescer uns 10%. Caso clima esquente, a alta pode chegar até 20%, em pleno inverno.

Não é por acaso que a AmBev está se preparando para o que, internamente, a empresa batizou de segundo verão. "Pelo horário dos jogos, pelo bom momento da economia e pela expectativa em relação ao desempenho da Seleção, estamos nos preparando para um pico de consumo de cerveja, chope e refrigerantes igual ao que temos no verão", diz Alexandre Loures, gerente de comunicação corporativa da AmBev.

Do lançamento de novos produtos às ações de divulgação, a AmBev está concentrando seus esforços exatamente neste momento do ano. No primeiro trimestre, segundo dados publicados no balanço, houve uma queda da alocação de verbas de marketing e vendas de refrigerantes - que resultaram numa redução de 6% na chamada despesas com vendas, gerais e administrativas. "O impacto maior dos investimentos para a Copa aparecerão no segundo trimestre, quando teremos uma alocação entre 31% e 33% da verba total", disse João Castro Neves, diretor financeiro e relações com investidores na divulgação do balanço do primeiro trimestre.

Já a Schincariol trabalha com dois cenários para a Copa. A empresa estima um aumento das vendas de 10% nas vendas nas regiões Norte e Nordeste e entre 5% e 8% no Sul e Sudeste. "O clima também será um fator importante para levar ou não o pessoal para os bares", diz Luis Fernando Amaro, gerente de grupo de produtos.

Mas se o friozinho no Sul e Sudeste pode inibir um consumo maior de cerveja e chope, a temperatura baixa vai estimular o consumo de vinhos. O Pão de Açúcar acredita que a alta nesta categoria seja da ordem de 20%.