Título: Alumínio primário terá exportação recorde em valor
Autor: Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2006, Empresas, p. B7

A valorização do real perante o dólar e a alta na cotação do alumínio estão causando um duplo impacto na indústria do metal no Brasil. De um lado, os preços elevados levarão as exportações de alumínio primário a um faturamento recorde de US$ 1,9 bilhão este ano, ganho de 35,7% em relação a 2005. O volume exportado crescerá 6%, de 753 mil para 800 mil toneladas, segundo a Abal, entidade do setor.

De outro lado, o material transformado, como chapas, perfis e folhas, enfrentará uma retração no volume de vendas externas de 5% a 10%, de acordo com o coordenador da comissão de comércio exterior da entidade, Augusto Amaral. Ele prevê uma exportação de 185 mil a 195 mil toneladas de transformados este ano em comparação às 205 mil toneladas exportadas no ano passado.

A principal razão para o impacto negativo no setor de transformados é o custo de produção em reais mais elevado, devido ao maior valor agregado nos produtos. Segundo Amaral, as empresas transformadoras estão perdendo espaço para países como Índia, China, México, Argentina e Venezuela nos principais mercados compradores.

A Clemente Alumínio, fabricante de laminados, trefilados e rebites, teve queda de 25% a 30% em suas exportações desde meados de 2005, causadas pela valorização do câmbio. "O importador não aceita grandes correções no preço", diz o diretor superintendente da empresa, Flávio Zurlini. Segundo ele, fatores que já encarecem as exportações brasileiras, como impostos e burocracia e que somam até 8% do valor exportado, ficam ainda mais pesados com o real valorizado. O principal mercado da Clemente no exterior é a América Latina, com destaque para o Peru, Colômbia, Bolívia e Chile.

A empresa conclui em junho a expansão de 40% na sua capacidade instalada, iniciada em 2002, quando esperava um aquecimento do mercado interno. No entanto, as vendas caíram cerca de 7% devido ao baixo consumo em alguns de seus principais mercados consumidores, como luminárias públicas e decorativas. "A expectativa era levar três anos para operar em plena carga após a conclusão, mas agora poderá levar mais de cinco anos", afirma Zurlini.

As exportações também foram prejudicadas na fabricante de rolos de papel alumínio e embalagens KenPack, instalada em Diadema (SP). Segundo Luiz Alberto Battistella, presidente da companhia, as vendas externas passaram de 6% para 1,5% da sua receita no último ano em função do câmbio. Para ele, o patamar atual está abaixo do ideal. "Exportar é interessante porque mostra que a empresa tem qualidade e garante parte das vendas caso o mercado interno se retraia", afirma o executivo, que assumiu o cargo em abril.

A CBA, empresa do grupo Votorantim que produz alumínio primário e transformados, é uma das poucas que espera aumento nas exportações de transformados, após um investimento de US$ 150 milhões na produção de laminados (folhas e chapas) que aumentou a capacidade instalada em 70% desde janeiro. O diretor de vendas, Luis Carlos Loureiro, diz que a produção excedente será exportada porque o mercado interno não terá capacidade de absorver. Caso o dólar confirme o movimento de valorização iniciado esta semana, o desempenho será melhor que o esperado, segundo o executivo.

O mesmo impacto positivo é esperado nas exportações de alumínio primário, que poderá ter um faturamento ainda superior caso o dólar continue a subir. O incremento na produção de metal primário este ano será impulsionado por ampliações na CBA e na Alcoa. Enquanto a primeira investe US$ 1 bilhão para incrementar a produção, que até 2007 atingirá 470 mil toneladas por ano, a segunda teve incremento de 63 mil toneladas na capacidade, concluído em março.