Título: Mantega mira segundo mandato e reforça equipe
Autor: Arnaldo Galvão e Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Brasil, p. A3

Pensar o futuro do Brasil e o crescimento sustentado, estimulando setores dinâmicos. Esta é, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a missão do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida no governo, que foi apresentado ontem como o novo titular da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério.

A escolha de Gomes de Almeida para formular políticas destinadas a pavimentar a transição da mera ortodoxia para medidas de maior fôlego, que venham garantir o crescimento sustentado no eventual segundo mandato de Lula, deixa mais isolada a diretoria do Banco Central nas áreas monetária e cambial. O novo secretário, porém, pode ser um reforço na visão de uma política fiscal austera e que concentre seus esforços no corte dos gastos correntes.

Gomes de Almeida trabalhou no Ministério da Fazenda na gestão do então ministro Dilson Funaro, nos anos 80, junto com Luiz Gonzaga Beluzzo, e como diretor-executivo do Iedi, tem sido crítico contundente das políticas monetária e cambial do Banco Central. Foi sob sua coordenação que o instituto preparou, recentemente, o estudo "O Colapso da Competitividade Exportadora", apontando os eventuais prejuízos da valorização do real. No Iedi, era defensor da execução de políticas industriais, de corte importante na taxa de juros e de uma política fiscal austera. Sua ida para o cargo de formulador de política econômica representa um afago do governo à indústria paulista.

Além dele, Mantega apresentou também ontem outros dois novos secretários: assume a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) Luís Inácio Lucena Adams - substituindo Manoel Felipe Rêgo Brandão - e comandará a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) Marcelo Barbosa Saintive, no lugar de Helcio Tokeshi.

Segundo Mantega, sua equipe está definida. Bernard Appy (Secretaria-Executiva), Jorge Rachid (Receita Federal) e Luís Awazu Pereira da Silva (Assuntos Internacionais) já integravam o Ministério da Fazenda com o então ministro Antonio Palocci. Carlos Kawall chegou com Mantega do BNDES e assumiu o Tesouro.

A escolha de Almeida foi também interpretada como um sinal de prestígio de uma corrente considerada "desenvolvimentista". O novo secretário de Política Econômica era diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), entidade que critica as políticas monetária e cambial e sempre defendeu a adoção de uma forte política industrial.

Confrontado com este perfil, Mantega descartou que ele seja um sinal de guinada na política econômica e negou que a chegada de Almeida representa maior intervenção no câmbio. "Trabalhamos todos juntos. Os ministérios da equipe econômica e o Banco Central são partes de uma mesma política e trabalham em harmonia", afirmou o ministro.

O Brasil, segundo Mantega, já está na trilha de crescimento e o governo tem de garantir esse desempenho para os próximos anos, com visão de longo prazo. Para o ministro, a presença de Almeida na SPE também não significa uma vontade de agradar aos empresários ou trazer alguém que criticava a política do governo. "Quero trabalhar pelo interesse da economia. Se agrada aos empresários, melhor", afirmou o ministro da Fazenda, na apresentação do novo secretário, que não falou após ser apresentado durante o evento no ministério.

Júlio Sérgio Gomes de Almeida é carioca e tem 54 anos. É doutor em economia pela Unicamp. Antes de dirigir o Iedi, integrou o Conselho Técnico do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) do Ministério da Ciência e Tecnologia. Também faz parte do Comitê de Política Indústria e Tecnológica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Trabalhou como consultor do BNDES e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Já teve experiência no setor público, trabalhando no Ministério da Fazenda e no IBGE.

O novo chefe da PGFN, Luís Inácio Lucena Adams, foi secretário-executivo adjunto do Ministério do Planejamento na gestão de Mantega à frente dessa pasta. É gaúcho e tem 41 anos. Em 1987, graduou-se em direito pela UFRGS. Mantega negou que os procuradores da Fazenda Nacional tenham resistido à sua escolha. "Não acredito em rebelião. O novo procurador-chefe é da carreira e, certamente, conquistará a confiança de seus colegas", garantiu.

Mantega também anunciou que o secretário-adjunto da Seae foi efetivado. Marcelo Barbosa Saintive é mestre em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).