Título: Gabrielli diz que projeto é complementar à Bolívia
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Brasil, p. A4

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, confirmou ontem que o projeto de aceleração da produção de gás da Bacia do Espírito Santo fará com que esse insumo seja oferecido ao mercado antes do gás da Bacia de Santos. Segundo ele, isso vai ocorrer devido à dificuldade encontrada pela Petrobras de encontrar, antes de 2008, navios que consigam conectar e operar poços de gás localizados a 3 mil de profundidade, como é o caso do Campo de Mexilhão. "A única disponibilidade de navios na profundidade de Mexilhão é para o segundo semestre de 2008. E isso (a falta de disponibilidade) é no mundo, não só no Brasil", frisou Gabrielli, que ontem apresentou a estratégia da companhia para garantir a auto-suficiência energética do Brasil para membros da Câmara de Comércio Britânica do Rio de Janeiro. Segundo Gabrielli, a aceleração da produção de gás no Brasil não significa que a Petrobras está abrindo mão da importação da Bolívia. Os projetos, segundo ele, são complementares.

A Petrobras ainda não tem previsão do montante dos investimentos que serão necessários para colocar o plano em prática. "Ainda é cedo para estimativas, pois estamos falando de descobertas (de petróleo e gás) de abril de 2006", disse.

Contudo, o executivo listou, entre os investimentos que serão antecipados, a compra ou o fretamento (aluguel) de duas plataformas flutuantes de produção, armazenagem e escoamento, ou FPSOs na sigla em inglês. A companhia também já iniciou o processo de licitação de dois navios que terão capacidade de transportar e liqüefazer o Gás Natural Liquefeito (GNL) o que descarta o plano anterior de construir plantas de regaseificação em terra. O GNL, segundo ele, servirá para suprir a demanda interruptível de gás.

Apesar dos dois navios dispensarem a construção de unidades em terra, Gabrielli disse que serão necessários terminais marítimos e tancagem para armazenar o gás antes da sua distribuição. As áreas em estudo são no Rio (12 a 14 milhões de metros cúbicos) e Ceará (6 milhões de metros cúbicos).

Ao detalhar os planos para aumentar em 24,7 milhões de metros cúbicos por dia a oferta de gás natural em 2008, o presidente da Petrobras disse que será necessário aumentar em 20 milhões de metros cúbicos/dia a capacidade de transporte de gás do Espírito Santo, o que vai exigir a construção de um gasoduto já apelidado de Gasduc 3, que vai levar gás de Cabiúnas (RJ) até a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), também no Rio.

Ele confirmou informação do Valor de que o gás produzido no campo ESS-164, ainda sem nome, será injetado no Espírito Santo, percorrendo o trecho a Cacimbas-Vitória e Vitória-Cabiúnas, onde entrará com 16,7 milhões m³/dia de gás. De Cabiúnas ele irá para a Reduc, onde se somará aos 6 milhões de metros cúbicos produzidos na parte capixaba da Bacia de Campos, e mais 1,5 milhão produzidos nos campos de Merluza e Lagosta, na Bacia de Santos.

O gás produzido nas bacias do Espírito Santo e Campos será enviado para São Paulo através do gasoduto Campinas-Rio, que ficará pronto no fim deste ano, servindo para suprir toda a região Sudeste. O Nordeste continuará "isolado", sendo suprido com quantidades adicionais de gás apenas em 2009, com o início da produção de gás em Mexilhão e com a conclusão do Gasoduto Sudeste Nordeste (Gasene) previsto para entrar em 2008.