Título: Lembo volta a criticar tucanos e recebe apoio da cúpula do PFL
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Política, p. A6

Deflagradas com a crise na segurança pública de São Paulo, as divergências entre PSDB e PFL ficaram em evidência. Dez dias depois do início da maior série de rebeliões em presídios, o governador Cláudio Lembo (PFL) ainda queixa-se da ausência de apoio e de ações de seu antecessor Geraldo Alckmin (PSDB) durante a semana caótica vivida pelos paulistas. Apesar de evitarem declarações polêmicas, entre uma crítica velada aos tucanos e um elogio, os pefelistas mostraram-se unidos em torno do governador paulista e pretendem consolidar-se no Estado.

Em um ato de "solidariedade" a Cláudio Lembo, a cúpula do PFL esteve presente em massa, ontem, na sede do governo paulista. No começo da tarde, o governador reuniu-se com lideranças pefelistas para avaliar o "abandono" dos tucanos e traçar estratégias para as coligações nacional, com Geraldo Alckmin, e estadual, com José Serra. Na semana passada, Alckmin ligou apenas duas vezes para Lembo - de acordo com o próprio governador. Serra, nos Estados Unidos, não ligou uma única vez.

"Meu partido estava unido", declarou Lembo, ao lado do presidente do PFL, Jorge Bornhausen e do vice na chapa de Alckmin, senador José Jorge (PE). "(O PFL) é solidário e tem aquilo que sempre deve haver em política: lealdade. Com a palavra lealdade se fazem grandes caminhadas. Os meus amigos estão aqui nessa caminhada, com lealdade."

O encontro com os dois tucanos veio apenas no domingo. De tarde, Alckmin ficou cerca de 40 minutos com Lembo na sede do governo paulista. "Nunca houve ausência de diálogo, houve talvez ausência de mais diálogo", pontuou o pefelista. Em seguida foi a vez de Serra. Junto ao prefeito paulista, conversaram sobre a situação do Estado.

As impressões sobre Alckmin e Serra são diferentes: "Geraldo é uma figura tipicamente paulista, do interior do Brasil", afirmou. "O encontro com Serra foi excepcional. Constatei que Serra é realmente um grande quadro político. Um homem qualificado, respeitoso, com idéias muito claras, precisas."

Apesar de ressaltar que não guarda mágoas, Lembo disse, em referência indireta aos tucanos, que a lealdade demorou a chegar porque "ela sempre demora a chegar em determinadas pessoas". "Quanto mais evoluído intelectualmente, mais demora a chegar a lealdade", alfinetou.

Questionado sobre as "deslealdades", o pefelista disparou: "No mundo sempre se sofre, a todo momento", sem citar nomes. "Posso dar o nome de muita gente, mas não gosto de lista". Irônico, disse que não se sentiu isolado porque os bons amigos (pefelistas) sempre estiveram presentes.

Na tentativa de minimizar o "fogo amigo", o governador afirmou que as relações com PSDB continuam "ótimas, solidárias e firmes". Na aparência, quase todos os pefelistas procuraram mostrar que o diálogo entre os dois partidos é o melhor possível. Entre eles, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, os senadores Heráclito Forte (PI) e Marco Maciel (PE), o presidente da Assembléia paulista, Rodrigo Garcia, e os deputados Rodrigo Maia (RJ) e Vilmar Rocha (GO).

Depois do encontro com o Lembo, a cúpula do PFL seguiu para encontro com Geraldo Alckmin. Longe do governo do Estado há pouco mais de 50 dias, Alckmin analisou como "natural" as críticas recebidas e discordou de seu sucessor ao dizer que liga diariamente para ele. " O que eu não faço é interferir no governo. Acho que a melhor colaboração que o ex pode dar é dar liberdade para que ele possa agir, mantendo sua autoridade", desconversou ."Vou disputar a nona eleição. Se for dar ouvido para fofoca, não faço nada. Bobagem."

Oposição ao governo federal, tanto PSDB quanto PFL têm o mesmo discurso para atacar Lula. "O governo federal não avançou na questão da administração pública, na segurança", disse José Jorge. "Esse governo foi uma experiência fracassada. O presidente é incompetente, leniente em relação à corrupção", criticou Bornhausen.