Título: Para governo, ministro cumpriu missão institucional
Autor: Juliano Basile e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Política, p. A8

O governo partiu, ontem, para uma ofensiva a favor da postura do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que se encontrou com o banqueiro Daniel Dantas, poucos dias depois de ter surgido um dossiê com nomes de autoridades com supostas contas no exterior - incluindo Bastos e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, e o próprio Thomaz Bastos apresentaram justificativas que consideraram plenamente plausíveis para o encontro com o banqueiro, apontado pela revista "Veja" como autor do dossiê. Os dois fizeram questão de enfatizar que a Polícia Federal fará uma "apuração rigorosa" sobre o dossiê.

Bastos afirmou que o encontro foi pedido pela assessoria de Dantas que queria se explicar. "Este encontro foi pedido pela assessoria dele", enfatizou o ministro, referindo-se a Dantas. "Fui, levei duas testemunhas (os deputados petistas Sigmaringa Seixas, do DF, e José Eduardo Cardozo, de SP) e tivemos, além dos deputados, um senador da República (Heráclito Fortes, do PFL da Bahia, considerado um aliado de Dantas)". As testemunhas foram importantes, segundo o ministro, para dar "lisura" e "impessoalidade" ao encontro.

"O importante é que essas conversas sejam impessoais, que não sejam escondidas, que não tratem de coisas que não podem ser tratadas", continuou Bastos. "Ele (Dantas) me disse que queria me entregar uma carta, onde dizia que nunca havia passado informações sobre o caso a nenhum órgão de imprensa. Eu disse a ele que a Polícia Federal tinha aberto uma investigação e que seria feita. Foi essa a conversa", concluiu.

Na carta, que foi distribuída pela assessoria de Bastos , Dantas negou ser o responsável pelas informações da revista "Veja" sobre o dossiê. "E ainda: garanto-lhe que são inverídicas notícias que me atribuem a iniciativa de ter solicitado, a quem quer que seja, investigações, no país, ou no exterior, a respeito da vida privada e financeira de autoridades brasileiras", completou Dantas.

Ao citar a investigação da PF, o ministro da Justiça ressaltou que a apuração do autor do dossiê será levada às últimas conseqüências. "A PF atua com impessoalidade e vai chegar às últimas conseqüências como sempre faz." Tarso Genro também enfatizou o "pulso" nas investigações: "A PF vai fazer um inquérito rigoroso em função das denúncias".

Para o ministro da Coordenação Política, Bastos agiu corretamente no episódio. "O ministro (Bastos) cumpriu uma função institucional", disse Genro. "Não vejo nenhum problema", completou ele. "Pelo contrário, ficou absolutamente claro que o ministro recebeu informações e afirmou ao senhor Daniel Dantas que a PF vai fazer um inquérito contra ele."

Genro e Bastos falaram em eventos realizados em locais diferentes. O ministro da Justiça falou com a imprensa depois da assinatura de um acordo de cooperação contra a lavagem de dinheiro com o governo da Espanha. O ministro da Coordenação Política deu entrevista na sede da OAB, em Brasília, onde contou com o apoio do presidente da entidade, Roberto Busato.

"O encontro em si, não vejo relevância alguma", disse Busato. "Eu acredito que as autoridades devam receber e discutir com as pessoas os problemas do país e esses encontros devem ser absolutamente transparentes", reiterou. Mas, o presidente da OAB fez as ressalvas . "Se houve qualquer tipo de ameaça ou colocação indevida (no encontro), a OAB não considera uma atitude adequada para um ministro de Estado", concluiu Busato.

Em São Paulo, o senador Heráclito Fortes, deu sua versão sobre o encontro de que foi anfitrião: "O Carlos Rodenburg (sócio de Dantas) , que é meu amigo - o Daniel nem tanto - me perguntou se eu poderia receber na minha casa o Márcio Thomaz Bastos para um encontro com o Daniel. Não vi nenhum problema". (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)