Título: Bancos europeus planejam encolher custos em US$ 1 trilhão
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2011, Finanças, p. C4

Os bancos europeus, que estão garantindo aos investidores que poderão suportar a crise da dívida soberana por meio da venda de ativos e da redução da concessão de empréstimos, poderão não conseguir captar recursos com a rapidez suficiente para evitar operações de recapitalização forçadas pelos governos.

Os bancos de França, Reino Unido, Irlanda, Alemanha e Espanha anunciaram planos de encolher em cerca de € 775 bilhões (US$ 1,06 trilhão) nos próximos dois anos, a fim de reduzir suas necessidades de financiamento de curto prazo e cumprir as exigências regulatórias mais rígidas de capitalização, segundo dados reunidos pela "Bloomberg". Analistas do setor bancário do Morgan Stanley preveem que esse montante poderá alcançar € 2 trilhões em toda a Europa no fim do ano que vem, à medida que os bancos reduzirão a concessão de empréstimos e venderão contratos de crédito e divisões inteiras.

A falta de compradores e as perdas com que os bancos se defrontarão com a venda de contratos de crédito tornam essas metas pouco realistas.

"As vendas de ativos são inviáveis diante do ambiente atual", disse Simon Maughan, diretor de vendas e distribuição da MF Global UK Ltd. Em Londres. "Todos os bancos estão vendendo e nenhum banco está comprando. Simplesmente não vai funcionar. Além disso, a magnitude dos cortes de que os bancos estão falando está muito longe do grau de desalavancagem que mais provavelmente será exigido. Eles têm de reduzir centenas de bilhões a mais para se adequar à nova ordem mundial. Tem de haver uma recapitalização."

Os dirigentes da União Europeia (UE) estão tentando aumentar o capital dos bancos num momento em que os investidores se mostram relutantes em fornecer recursos de curto prazo, em parte devido à sua preocupação de que os bancos se verão às voltas com novas baixas contábeis correntes das dívidas soberanas da Grécia e de outros países do sul da Europa.

As autoridades da UE poderão exigir que os bancos aumentem seu capital acionário para 9% dos ativos, ponderados pelo grau de risco, em relação aos 5% atuais até 30 de junho de 2012, sete dias antes da meta fixada pela Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, disse ontem o ministro da Fazenda da Alemanha, Wolfgang Schäuble, a uma comissão parlamentar fechada, segundo dois parlamentares presentes à reunião.

Os bancos europeus deverão precisar d€ e 100 bilhões a € 230 bilhões de capital adicional para atender às exigências, segundo estimativas do Morgan Stanley e do J.P. Morgan Chase. Os que não conseguirem captar recursos por meio da venda de ações terão de tomar capital de seus governos ou da UE e deverão enfrentar restrições para pagar bônus e dividendos, disse José Barroso, presidente da Comissão Europeia, no dia 12.

Os dirigentes europeus examinarão os planos em reunião marcada para o dia 23 em Bruxelas.

Os bancos, cujas ações caíram 32% este ano, conforme os critérios de medida do índice "Bloomberg" de Bancos e Serviços Financeiros Europeus, são contrários ao plano em parte porque ele diluirá o valor atual das ações. Além disso, o principal executivo do Deutsche Bank, Josef Ackermann, e o presidente do conselho de administração do Banco Santander, Emilio Botín, dizem que as injeções de capital não contemplarão o verdadeiro problema, que é a dívida soberana.

"Uma vez que os investidores privados certamente não fornecerão os recursos para essa recapitalização, os governos acabarão tendo de captar eles mesmos esses recursos, apenas exacerbando, assim, seu endividamento", disse Ackerman, que também é presidente do conselho de administração do Instituto de Finanças Internacionais sediado em Washington, em simpósio realizado dia 13 em Berlim.

Contornar a necessidade de ajuda governamental poderá exigir a redução das demonstrações de resultados, disse ele. Esse encolhimento contribuirá para que os bancos atendam aos índices de capitalização corrigidos.

As propostas da UE "gerarão uma contração do crédito, uma vez que muitas instituições vão optar por diminuir suas demonstrações de resultados", disse na terça-feira Botín, em discurso proferido na sede do Santander, nos arredores de Madri.

Ações Sobem

As bolsas de valores europeias mostraram desempenho positivo ontem, reagindo às especulações de que os dirigentes vão refrear a crise da dívida da região. Os analistas atribuíram parcialmente as altas das ações à notícia divulgada pelo jornal britânico "The Guardian" de que a Alemanha e a França teriam concordado em aumentar o fundo de salvamento financeiro da região para € 2 trilhões, mesmo depois que uma pessoa com conhecimento direto das deliberações disse à "Bloomberg News" que não tinha sido alcançado qualquer acordo.

O Moody"s Investors Service reduziu a classificação de crédito da Espanha pela terceira vez em 13 meses.

Os bancos franceses BNP Paribas, Crédit Agricole e Société Générale, cujos preços das ações caíram 33%, 47% e 52% respectivamente este ano, foram os últimos a anunciar reduções de ativos depois que os investidores rechaçaram seus papéis em agosto, motivados por especulações de que a França estaria diante de um rebaixamento da nota de crédito e por preocupações de que os bancos estariam dependentes demais de financiamentos de curto prazo. (Tradução de Rachel Warszawski)