Título: Mercado paralelo garantiu terras para atuais produtores
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Especial, p. A12
Sem aptidão para o trabalho no campo e com dívidas acumuladas, muitos dos pequenos produtores assentados no Jaíba passaram adiante a carta de ocupação dos lotes, criando um mercado paralelo de terras irrigadas. A maior parte da produção atual dos pequenos é garantida por agricultores que ficaram de fora da seleção e tiveram de pagar entre R$ 6 mil a R$ 20 mil por um terreno de cinco hectares.
"O pessoal daqui não soube dar valor ao que recebeu", diz Rocine Aguiar, que pagou R$ 15,8 mil pelos seus cinco hectares há dois anos. Além do lote, os primeiros assentados receberam bomba d´água e equipamentos para a irrigação por aspersão, além de crédito para começar a lavoura.
Neto de agricultores, Aguiar investiu na criação de porcos, engorda de boi e cultivo do milho. Tudo isso em apenas cinco hectares, trabalhando sozinho. O negócio de vender leitões para redes de supermercados do interior de Minas vai tão bem que ele se animou a pegar um empréstimo no Banco do Nordeste para modernizar a criação.
Enquanto os vizinhos perderam todo o milho que plantaram, devido à falta de chuvas deste ano, ele conseguiu salvar a produção graças a uma pequena adaptação no sistema de irrigação. O cano do aspersor que veio com o lote não tem altura suficiente para molhar por cima os pés de milho. Aguiar, então, aumentou o comprimento com tubos de PVC.
"Falta persistência", reconhece Sérgio Batista de Sá. "Quem foi sempre mecânico não consegue entender os ciclos da agricultura." A família Batista de Sá, que chegou no assentamento em 1997, plantou 1,5 hectare de bananas, mas perdeu tudo com o mal do Panamá, praga que arrasou as plantações no fim da década passada.
A família, que sempre trabalhou na roça, renegociou as dívidas com o Banco do Nordeste e investiu em outro produto. Mas ainda amargou um prejuízo com o mamão papaia antes de acertar no limão. A meta da família é aumentar a produção, talvez comprar ou arrendar mais um lote para um dos filhos casados, e entrar para associação de produtores de limão do Jaíba.
Embora o nível de produção nas terras irrigadas do Jaíba ainda esteja muito abaixo do que foi planejado, não há como negar que o projeto já resultou em melhoria significativa das condições de vida na região. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Jaíba, município que fica a 498 quilômetros de Belo Horizonte, ainda é um dos piores do Estado. Mas melhorou consideravelmente na última década. Subiu de 0,527 em 1999 para 0,652 em 2000.
A renda per capita subiu de R$ 66,90 para R$ 110,70. A proporção de pobres na população caiu de 71,25% para 62%. O analfabetismo, de 50,1% para 35,7%. E a taxa de mortalidade, de 70 (70 por 1.000 nascidos vivos) para 44,2. (IM)