Título: Ibovespa engrossa onda de vendas de papéis de emergentes e cai 3,28%
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Finanças, p. C1

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou ontem com forte queda no seu principal índice. A pressão veio da piora do cenário nas principais praças financeiras internacionais, reflexo do aumento da fuga de capital de ativos de emergentes para títulos públicos americanos. A melhora nos pregões em Nova York e nos preços de algumas commodities no fim do dia ajudou a reduzir as perdas locais.

Nesse contexto, o Ibovespa terminou com queda de 3,28%, aos 36.496 pontos, na menor pontuação desde 9 de março, quando fechou com 36.312 pontos. Na mínima, o índice chegou a cair 5,48%, aos 35.663 pontos. Na máxima, marcou 37.732 pontos. O volume financeiro somou R$ 3,31 bilhões, indicando apetite na ponta vendedora.

As bolsas de vários países emergentes sofreram muito e o pregão local seguiu esse fluxo vendedor, observou o sócio responsável por risco e relacionamento com investidores da Principia Capital Management, Marcello Paixão. Entre os exemplos citados pelo especialista está a Bolsa de Bombaim, da Índia, cujo indicador Sensex fechou com queda de 4% depois de ceder 10% e parar de funcionar por uma hora, após o acionamento do "circuit braker".

Na Rússia, o índice RTS caiu 9%. As perdas foram generalizadas nos mercados de países que estão no chamado grupo BRIC - sigla criada pelo Goldman Sachs para se referir aos países emergentes com maior potencial de crescimento, que ainda inclui a China e Brasil.

Paixão atribuiu tal movimento à realização de lucros sobre as ações de emergentes e em várias commodities, aliada à migração de investimentos para títulos do Tesouro dos Estados Unidos - o que afetou também os mercados americano e europeu. A queda no rendimento do treasury de dez anos referenda o chamado "flight to quality" (vôo para qualidade), na procura por papéis com menor grau de risco. No final do dia, o juro do papel caiu 0,14 ponto percentual, a 5,04% ao ano, após chegar à marca de 4,98% anuais, na mínima.

Houve um longo período de forte valorização nas ações de países emergentes e commodities, atrelado a um cenário de crescimento global com inflação sob controle, observou o especialista. Na avaliação dele, o movimento dos últimos dias indica que os investidores passaram a se questionar sobre isso. E os mesmos agentes que puxaram os mercados para cima há meses, agora estão zerando posições de risco e investindo nos bônus americanos, completou Paixão.

A recuperação - embora ainda em terreno negativo - dos índices acionários americanos, bem como dos preços de algumas commodities, ajudou na melhora da bolsa paulista. O índice Dow Jones, principal referência das ações negociadas na Bolsa de Nova York (NYSE) caiu 0,17%, mas chegou a declinar 0,93% no pior momento do dia.

A redução do declínio de ações com importante peso na carteira do Ibovespa, e fortemente vinculadas ao desempenho de commodities, também ajudou no alívio do pregão brasileiro. No caso da preferencial Petrobras, a queda chegou a 4,80%, mas no final o papel registrou declínio de 0,67%, a R$ 42,99. Sozinha, essa ação responde por 11,278% do índice. A PNA da Companhia Vale do Rio Doce chegou a recuar 4,28% para fechar com desvalorização de 1,29%, a R$ 42,69. A participação desse papel chega a 8,401% no Ibovespa.