Título: Meirelles afirma que "trajetória é de crescimento"
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Finanças, p. C1

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, minimizou ontem o impacto das fortes oscilações da bolsa e do dólar no mercado de capitais brasileiro. "O mercado sobe e desce. Não tem trajetória linear. A tendência do mercado de capitais é de crescimento", disse no final do discurso que fez durante evento na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para a premiação dos "Bem-Sucedidos de 2006".

Ruy Baron/Valor Henrique Meirelles, presidente do Banco Central: "O mercado sobe e desce" "As bolsas estão tendo valorização, independentemente de flutuações do dia-a-dia", afirmou Meirelles, destacando que a bolsa brasileira vem subindo há três anos. Enquanto falava, a queda do Ibovespa beirava os 6%.

Em seu rápido discurso, Meirelles enfatizou a trajetória de crescimento sustentado da economia e a inflação dentro da meta, que têm contribuído para aumentar a previsibilidade para os agentes do mercado. "Nossa economia tem enfrentado com sucesso os desafios recentes", disse. "Não há mercado que se valorize e cresça baseado em incertezas e má gestão econômica", afirmou. Ele não falou com a imprensa.

Em outro evento, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, disse que o Brasil está preparado para uma eventual "virada" na conjuntura internacional, que estaria sendo motivada pelo aperto monetário norte-americano.

Segundo Azevedo, o crescimento das reservas internacionais, hoje em cerca de US$ 60 bilhões, e o alongamento da dívida mobiliária federal são os grandes pilares de sustentação da economia brasileira frente à maior volatilidade.

Sobre a elevação dos juros nos Estados Unidos, Azevedo deu a entender que confia na estabilização da taxa em 5% ao ano, ao classificar o patamar "pouco provável".

No evento da Bovespa, os executivos presentes ouvidos pelo Valor não esconderam a surpresa com o comportamento do mercado, mas disseram que ainda é cedo para afirmar se é uma mudança de rumo dos investidores ou uma realização de lucros. "É um movimento exagerado, típico de pânico", destacou Joaquim Eloy Cirne de Toledo, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (FEA).

Carlos Eduardo Monteiro, presidente do banco paulista Nossa Caixa, e um dos homenageados do dia, se disse "surpreso" com os preços dos ativos. "Há muito não se via algo parecido", ressaltou. Para Monteiro, o que se viu ontem no mercado, porém, ainda não é suficiente para indicar se está havendo "uma enorme realização de lucros" ou uma mudança de tendência.

Maurício Botelho, presidente da Embraer, outro dos homenageados, também afirma ser difícil neste momento avaliar os impactos do estresse. "O que está acontecendo hoje (ontem), não sei se amanhã (hoje) vai estar prevalecendo. Não sabemos se é permanente ou não", disse. Ele, porém, não reclamou do dólar mais caro, que bateu nos R$ 2,30 ontem. O real valorizado, segundo ele, tem "machucado" a Embraer, uma das maiores exportadoras do país. "A desvalorização (do real) é bem-vinda", disse.

Já o presidente da BM&F, Manoel Felix da Cintra Neto, destacou, na Bovespa, que o investidor que usou os instrumentos derivativos que a BM&F oferece, "está calmo", apesar do comportamento "nervoso" do mercado.