Título: Gastança impede meta
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2010, Economia, p. 11

A arrecadação sem precedentes registrada pela Receita Federal nos últimos meses não deve garantir o cumprimento da meta do governo de economizar o equivalente a 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) para o pagamento de juros. A avaliação é do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, para quem os recordes obtidos pelo Fisco, na verdade, deverão expor ainda mais a deterioração das contas públicas.

Diante da gastança do governo, analisa Leal, a economia não será alcançada nem mesmo se o governo optar por abater da conta os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento que, na prática, reduzem o esforço necessário a até 2,4% do PIB. Uma arrecadação recorde ajuda, claro, mas não garante o cumprimento da meta. Só deixa mais clara a piora nos gastos do governo e ainda mostra que a desaceleração da atividade econômica, apregoada pelo governo, é uma completa fantasia, afirmou.

Os dados atuais das contas públicas estão, na avaliação de Leal, um pouco distorcidos por conta das eleições, que limitam o empenho de gastos dinheiro reservado para determinadas compras até junho. Em sua avaliação, a postura do governo em elevar despesas é uma opção que pode revelar-se equivocada a longo prazo. Foi uma escolha do Estado ser indutor da economia, do crescimento, dos investimentos.

Se foi correta ou não, teremos que ver no futuro, disparou.

Além do abatimento do PAC, o governo ainda conta com uma outra possibilidade, que é resgatar os recursos do Fundo Soberano Brasileiro, atualmente aplicado como fundo de investimento, no total de R$ 17,8 bilhões. Neste ano, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, garantiu por diversas vezes que o governo trabalha com a possibilidade de cumprir a meta integral de superavit primário sem utilizar os descontos previstos nem reintegrar a reserva soberana ao caixa da União.