Título: BNDES rejeita pedidos de empréstimo-ponte à Varig
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2006, Empresas, p. B3

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) rejeitou ontem os três pedidos de empréstimos-ponte à Varig protocolados na instituição de fomento por três grupos na semana passada.

Duas dessas propostas foram identificadas pelo mercado: uma foi feita pelo banco BRJ, especializado em crédito imobiliário, e outra pelo Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). A terceira, segundo fontes do setor, teria sido apresentada por um fundo de investimento paulista.

Os pedidos de financiamento foram recusados pelo BNDES porque não apresentavam fiança bancária e também porque os investidores não divulgaram uma previsão de recursos próprios para a complementação do empréstimo-ponte à Varig, informou a assessoria de imprensa da instituição de fomento. Atendendo a uma solicitação da própria Varig, o banco também informou que vai financiar até dois terços do valor pago pelo vencedor do leilão da companhia.

O diretor da Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, afirmou que a Varig está negociando um outro empréstimo-ponte diretamente com cerca de 14 empresas interessadas em participar do leilão, previsto para a primeira semana de julho. De acordo com ele, esses investidores não consideraram vantajosa a oferta feita pelo BNDES e resolveram negociar diretamente com seus bancos comerciais.

Apesar de ainda estar na expectativa do recebimento do empréstimo-ponte, a Varig conseguiu ontem o fôlego financeiro que precisava para garantir a continuidade de suas operações, pelo menos até o fim deste mês. Executivos da empresa e da BR Distribuidora, uma de suas principais credoras, fecharam um acordo para fornecimento de querosene de aviação (QAV) à aérea até 31 de maio.

Os detalhes do acordo foram mantidos em sigilo, mas o Valor apurou que a Varig ofereceu em pagamento à BR créditos que tem a receber da Billing and Settlement Plan (BSP) - serviço da Associação Internacional do Transporte Aéreo (da sigla em inglês Iata) - e recebíveis da RedeCard, no valor total de cerca de US$ 9 milhões. A BSP funciona como uma espécie de câmara de compensação caso passageiros da Varig tenham de voar com outras empresas, se houver problemas nos vôos internacionais da companhia.

A aérea vinha pagando à vista e diariamente à BR Distribuidora cerca de US$ 1 milhão. Desde o início do ano, pleiteava um prazo de pelo menos 60 dias para a retomada do pagamento do combustível para ter condições de enfrentar o período de baixa temporada (abril, maio e junho), quando tradicionalmente suas receitas diminuem. A BR, no entanto, não cedeu aos apelos da Varig, alegando que o contrato entre ambas havia terminado em dezembro do ano passado e que a Varig não tinha mais garantias reais para dar em troca.

Uma liminar concedida pelo juiz da 1ª Vara Empresarial, Luiz Roberto Ayoub, a pedido da aérea, no último dia 11, no entanto, suspendendo a cobrança antecipada pelo fornecimento do combustível até o dia 16 de maio, fez com que as duas empresas voltassem à mesa de negociações.

Representantes das duas companhias se reuniram por duas vezes na semana passada, na tentativa de costurarem um acordo. Ficou acertado que a Varig teria o combustível garantido até hoje. Uma fonte da BR, no entanto, contou ao Valor que a companhia aérea conseguiu provar que tem recebíveis reais a receber até o fim deste mês, o que possibilitou o alongamento do prazo por mais nove dias. Segundo essa fonte, os cerca de US$ 12 milhões devidos à BR pelo fornecimento do QAV dos últimos 12 dias serão pagos por meio de recebíveis de cartão de crédito da Visa.

Em nota ontem, a BR informou que "o acordo é resultado do processo de negociação entre as duas companhias que acontece desde o início do ano, sempre no sentido de buscar uma solução para que a Varig continue voando até que se restabeleça completamente como uma das mais importantes companhias de aviação do Brasil". A BR também informou que jamais usou formas de pressão para alcançar seus objetivos comerciais, quer seja com a Varig, quer seja com o Judiciário que conduz o processo de recuperação da companhia.

Uma fonte que acompanha de perto as negociações na Varig, disse que, com o acordo, a aérea conseguirá garantir a continuidade de suas operações até o leilão, independentemente do empréstimo-ponte sair ou não. Apesar de o contrato com a BR terminar em junho, a Varig teria a receber, segundo essa fonte, cerca de US$ 50 milhões, referente à venda de passagens para a Copa do Mundo pagas com o cartão de crédito Visa, o que daria um alívio extra ao seu caixa.