Título: "Abertura não será feita na Praça da Sé", diz Alencar
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Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Política, p. A10

O vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, reiterou ontem que o governo não vai recorrer da decisão judicial que determinou a abertura dos arquivos da Guerrilha do Araguaia, mas sinalizou que será um processo criterioso. "Nós vamos examinar com o maior apreço tudo o que for objeto de decisão da justiça. Uma decisão judicial não se discute, cumpre-se", afirmou. "Agora, é claro que os arquivos não serão carregados e abertos na Praça da Sé (centro de São Paulo). As pessoas interessadas vão naturalmente procurar saber o que aconteceu com seus ancestrais, descendentes e parentes. É direito do cidadão." O ministro da Defesa avaliou que o cumprimento da decisão judicial não vai provocar resistência de setores das Forças Armadas. "Nada disso. Estamos vivendo em um regime democrático, num Estado de direito, onde o cidadão é rigorosamente respeitado. É preciso que todos compreendamos que isso é uma coisa natural." O Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região determinou na segunda-feira a quebra do sigilo de todos os arquivos relacionados à guerrilha e solicitou a presença, em audiência com a corte, de três ministros de Estado e outras autoridades do alto escalão do governo para traçarem estratégia de abertura de todos os arquivos no prazo de 120 dias. O governo decidiu que a Advocacia-Geral da União (AGU), Casa Civil, Ministério da Justiça e Secretaria de Direitos Humanos negociarão com a Justiça a realização das audiências. José Alencar concedeu a entrevista depois de participar da cerimônia de apresentação de oficiais-generais promovidos no Palácio do Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao ser questionado sobre o assunto, o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, desconversou: "Vamos continuar aguardando". O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Armando Félix, disse que primeiro o governo precisa organizar tudo para ver como o processo será conduzido. Ao discursar para os oficiais-generais, Lula não tocou no assunto, mas fez questão de reforçar a autoridade de José Alencar: "Eu tenho certeza que o nosso ministro da Defesa terá uma relação exemplar com vocês sem abrir mão, um milímetro, de sua autoridade", ressaltou. "Se em algum momento da história alguém pensou em criar o ministério da Defesa apenas para inglês ver, a entrada do José Alencar no ministério é para dizer: o ministério é para valer." Lula voltou a dizer que a indicação de Alencar para o cargo de ministro é uma demonstração da relação que o governo quer construir entre as Forças Armadas e a sociedade brasileira e repetiu o tom do discurso do dia da posse do vice-presidente no ministério. "Eu já disse que gostaria que, ao fim do meu mandato, a gente não precisasse mais ter nenhuma diferenciação entre os nossos militares e a sociedade civil, de que pudéssemos estar irmanados num único objetivo de transformar o Brasil num país cada vez pujante", afirmou o presidente da República.