Título: Fora da disputa, Aloysio preocupa-se com cisão entre PSDB e PSD em 2012
Autor: Lima,Vandson
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2011, Política, p. A8

Dizendo-se "definitivamente" fora da lista de nomes tucanos que buscam o posto de candidato à sucessão na prefeitura de São Paulo, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) sequer transferiu seu título eleitoral de São José do Rio Preto, sua cidade natal, para a capital do Estado, o que lhe daria a possibilidade de acompanhar a movimentação política ainda com chances de entrar na disputa. "Nunca quis ser candidato à prefeitura. Depois da vitória épica que tive para o Senado, histórica para o PSDB e pessoalmente, teria de transferir título, começar outra campanha...", observa, com um desconforto aparente em responder mais uma vez à questão.

Desprovido da pretensão eleitoral, o senador se mostra especialmente preocupado com a partilha de votos que o PSDB e o novato PSD, do prefeito Gilberto Kassab, poderão experimentar na capital paulista em 2012. "Temos um eleitorado comum. Nos últimos oito anos, boa parte das ações positivas do poder público se deu pela junção dessas duas forças políticas, trabalhando a quatro mãos. Mas provavelmente caminharemos separados na eleição da capital". O senador alerta que "as direções de campanha dos dois partidos precisam de sabedoria para não dinamitar pontes para o segundo turno", avalia, já antevendo que, provavelmente, apenas um dos dois partidos chegará à reta final da eleição.

A gestão de Kassab, que deve ser alvo preferencial da maioria dos candidatos - não se sabe ainda se dos próprios tucanos também - é considerada "muito positiva" por Nunes Ferreira. "Em grande medida, é uma continuidade da gestão do José Serra [prefeito entre 2005 e 2006]. Kassab tomou medidas marcantes para São Paulo, como a Lei da Cidade Limpa. O grau de expansão no atendimento à educação infantil foi incomparável", diz.

O novo partido de Kassab também é elogiado pelo senador, cuja relevância mede pela representatividade já no nascedouro. "Evidente que há partidos que são de fancaria, como esse Partido da Pátria Livre (PPL), sem nenhuma significação. Mas um que nasce com mais de 50 deputados federais, com governadores e senadores, representa uma força política no país".

Questionado se o PSD tende ao governismo, vê o caso como consequência do sistema político brasileiro, sem, no entanto, condenar a existência de tantos partidos. "Nos Estados, o PSD teve apoio de praticamente todos os governadores, do PT ao PSDB, por conta da dinâmica local. Precisa ver se terá capacidade de formular um projeto nacional e de gerar líderes de envergadura para disputar a presidência. Mas a operação política foi extremamente bem sucedida, conduzida por um dos políticos mais talentosos que já conheci, que é o Gilberto Kassab", avalia.

Depois de postar, semana passada, uma série de mensagens em sua página do Twitter reclamando por não ter sido incluído nas propagandas do partido, Nunes Ferreira diz que, como em outras ocasiões, "estrilou" de imediato, a seu estilo, mas exime o governador Geraldo Alckmin de culpa. "Fiquei chateado de não poder dar uma mensagem aos eleitores que votaram em mim, de falar sobre as minhas atividades no Senado. O governador não me deu nenhuma explicação e nem teria de dar. Não é ele quem decide isso, é a direção estadual. Apenas acho que eu deveria ter sido consultado", diz.

Na mesma linha, o senador saúda a realização de prévias para escolha de candidatos a prefeito no PSDB, mas mantém a crítica à condução do processo de escolha da executiva municipal, que resultou na saída de seis vereadores do partido. "Achei ruim a maneira como conduziram e disse claramente ao Alckmin. Deveria ter feito um esforço para que o novo presidente fosse um vereador, afinal tinhamos a maior bancada da Câmara de São Paulo".

Sobre a aproximação de Alckmin com a presidente Dilma Rousseff (PT), firmando uma série de parcerias entre os dois governos, Nunes Ferreira, que foi secretário da Casa Civil na gestão anterior, de Serra, diz aplaudir, mas não vê novidade. "Já acontecia no governo Serra. Tivemos uma relação republicana com o ex-presidente Lula. A União colocou dinheiro em obras do Rodoanel, teve dinheiro de ambos para construção de casas e obtivemos autorizações para empréstimos externos com autoridades do Ministério da Fazenda. Tudo feito sem maior alarde".

A mudança na política de juros é considerada um avanço pelo senador, mas os elogios ao governo federal param por aí. Resume a gestão Dilma como "muita fumaça e pouco fogo". "O cumprimento de promessas eleitorais está muito distante das expectativas geradas na campanha. Só no fim do ano, tardiamente, é que se vão lançar os editais para a concessão de aeroportos para a iniciativa privada. E ainda assim, editais altamente contestados". Nunes Ferreira diz haver entre empresários "muita desconfiança" com o plano, "por conta da associação forçada com uma empresa pública reconhecidamente ineficiente, que é a Infraero ".

Nunes Ferreira também acusa Dilma de se ausentar do protagonismo dos debates sobre as grandes questões federativas, como a partilha dos royalties ou a guerra fiscal. Cotado para a relatoria no Senado do projeto que cria a Comissão da Verdade, diz em linhas gerais concordar com o projeto, mas evita comentar pontualmente. "Os relatores nas comissões da Casa nem foram designados ainda. Prometo que, mais pra frente falarei a respeito".

Por fim, Nunes Ferreira se esquiva de previsões sobre o futuro do correligionário Serra, que em sua visão também não brigaria pela prefeitura paulistana. E sobre a sucessão presidencial, evita cravar o senador mineiro Aécio Neves como candidato natural. "Há vários nomes, Aécio, o governador [de Goiás] Marconi Perillo. O [senador] Álvaro Dias foi governador do Paraná e está no terceiro mandato como senador, pode ser também", diz.