Título: Uruguai deve negociar com os EUA, diz chileno
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2006, Brasil, p. A3

O exame da política comercial do Uruguai na Organização Mundial do Comércio (OMC), concluído na sexta-feira, expôs aos 149 países-membros o estado de divergências entre sócios do Mercosul. O representante do Chile, Mario Matus, que agiu como comentador da política uruguaia, foi ácido e negativo sobre os resultados do bloco, fazendo o Brasil reagir em defesa da integração regional. Já o Uruguai defendeu uma nova visão de "regionalismo aberto".

Matus sugeriu implicitamente aos uruguaios seguir seu caminho e fechar acordo com os Estados Unidos, o que pode dar um novo golpe no Mercosul, do qual o Chile é membro associado. Ele argumentou não ser "evidente que (o Mercosul) tenha resultado em exercício positivo para o desenvolvimento do país", e disse que se baseou no comércio uruguaio de 1991 até hoje. Segundo Matus, de sde 1998 as importações uruguaias vindas do Mercosul permaneceram estáveis. Nas exportações, o panorama é diferente.

Ele disse que as vendas uruguaias ao Mercosul caíram de 55% para apenas 26% do total exportado pelo país nesse período. E o Uruguai está ganhando mercado nos Estados Unidos. A participação dos EUA passou de 5,8% para 25% do total exportado pelo país.

A delegação brasileira reagiu, considerando que o processo de integração tem sido positivo para os sócios e não negativo, como disse o chileno. Exemplificou que o comércio intra-Mercosul é o mais dinâmico na América Latina, com 30% de todas as trocas na região.

Para o Brasil, a integração deve ser vista como "um processo estratégico de longo prazo". O país considera que as dificuldades no Uruguai e no entorno regional não são conseqüências exclusivas do processo de integração comercial, e sim de "circunstâncias históricas e do ambiente internacional que vão além do comércio" e afetam a todos. Ainda assim, a delegação brasileira reconheceu ser necessário fazer muito mais para a integração, com atenção especial para as economias menores.

A delegação uruguaia foi prudente. Desejou "mais e melhor Mercosul", embora com nuances. Carlos Amorim, diretor-geral de comércio e integração do ministério uruguaio de Relações Exteriores, fala de "regionalismo aberto" para justificar uma futura demanda no Mercosul de flexibilidade para estabelecer sozinho "relações" com terceiros países.

Tradicionalmente, regionalismo aberto significa que um bloco comercial não desvia comércio. Para o Uruguai, significa agora não se limitar a acordos menores em conjunto, como o do Mercosul com a Índia, que resultou em cortes de um número pequeno de tarifas.

Na sexta-feira passada, segundo a agência Ansa, o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos afirmou que irá propor na cúpula de julho do Mercosul uma "exceção" para que os sócios menores do Mercosul possam firmar acordos bilaterais fora do bloco. Segundo Duarte Frutos, "há tempos estamos avaliando esta necessidade" (de flexibilizar o tratado), especialmente pela dificuldade que o bloco impõe para assinatura de acordos bilaterais de livre comércio.