Título: Vários países, entre eles EUA e Brasil, pagaram a Pinochet, diz o 'NYT'
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Internacional, p. A11
Os Estados Unidos e outros países, entre eles o Brasil, teriam pago ao ex-ditador chileno Augusto Pinochet US$ 12,3 milhões, de acordo com um documento obtido com exclusividade pelo jornal "The New York Times". Os pagamentos teriam sido contabilizados como "comissões de serviços e viagens ao exterior". Segundo o "NYT", Washington pagou a Pinochet US$ 3 milhões em 1976. Em outros períodos, o ex-ditador recebeu US$ 1,5 milhão do Paraguai, US$ 1 milhão da Espanha, US$ 2,5 milhões de China e Reino Unido e US$ 3 milhões de Reino Unido, Brasil e Malásia. De 74 a 97, os pagamentos a Pinochet totalizariam US$ 12,3 milhões. Até o fechamento desta edição, o governo brasileiro não havia comentado o caso. O jornal americano não deu detalhes sobre o suposto pagamento feito pelo Brasil. As informações constam de relatório preparado pelo Senado americano sobre lavagem de dinheiro no país envolvendo o Banco Riggs. O banco, uma subsidiária do Riggs National Corporation, tem sido alvo de investigação federal, desde o fim de 2002, por lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. Em maio deste ano, uma comissão do Senado americano concluiu que o banco teria ajudado o general Pinochet a esconder dinheiro da Justiça em contas bancárias pessoais e de empresas e o teria ajudado também a transferir para os Estados Unidos cerca de US$ 1,9 milhão que estavam depositados em Londres. O Senado também apurou que o relacionamento entre Pinochet e o banco americano durou de 1994 a 2002, e os funcionários do banco procuraram esconder as contas do general da supervisão bancária por dois anos. O ex-ditador tinha múltiplas contas bancárias e investimentos cujo saldo oscilou de US$ 4 milhões a US$ 8 milhões. O "NYT" lembra que em 1976, quando Pinochet recebeu a ajuda de Washington, ocorreram dois eventos cruciais. Um deles foi o acordo de ampla cooperação entre os serviços de inteligência chileno e de outros países da América Latina para perseguir e assassinar oponentes políticos, conhecido como Operação Condor. O outro foi a morte do chanceler Orlando Letelier e sua assistente americana, na explosão de seu carro em uma rua movimentada de Washington - episódio que levou a uma reavaliação do relacionamento da Casa Branca com o governo chileno. Pinochet, hoje com 89 anos, assumiu o governo do Chile após um golpe que derrubou o presidente eleito Salvador Allende, em 1973. Ficou até 1990. O general instituiu um Estado policial, que seqüestrou e matou ao menos 4 mil dissidentes políticos. Seu governo também levou o Chile a um período de estabilidade política. Até 1998, ele permaneceu no comando militar do país. Hoje, Pinochet enfrenta acusações de abusos de direitos humanos e investigações sobre as transações financeiras durante seu governo.