Título: Fiquem fora disso
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2010, Mundo, p. 18

RODRIGO CRAVEIRO

As palavras de Rahmin Mehmanparast soaram como se a pena de morte de Sakineh Mohammadi Ashtiani fosse irreversível. A três dias da divulgação da sentença, o portavoz da chancelaria iraniana declarou: Nações independentes não permitem que outros países interfiram em seus assuntos judiciais.

De acordo com ele, o Irã não vai tolerar qualquer intervenção externa no caso da viúva sentenciada à morte por apedrejamento, por supostamente cometer adultério e matar o próprio marido. Os países do Ocidente não devem pressionar nem dar tanta atenção (ao assunto) Os casos judiciais têm procedimentos precisos, especialmente quando envolvem assassinato, afirmou Mehmanparast. O portavoz também se referiu à intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder asilo a Sakineh. Não é uma oferta lógica, e é mais baseada em uma abordagem política, sustentou.

O chanceler Celso Amorim voltou a falar sobre Sakineh.

Não é uma interferência, de modo algum, na soberania (do Irã), mas um apelo. O apelo de uma pessoa com quem você tem relações amistosas tem mais chance de ser bem-sucedido, lembrou. Como o presidente Lula tem boa relação com o presidente (Mahmud) Ahmadinejad, é natural ele poder fazer um apelo, acrescentou. Dentro do governo, a percepção sobre o caso adquire tons diferentes. Na segunda-feira, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, chamou Ahmadinejad de ditador. O governo Lula está pressionando diplomaticamente o governo iraniano para que permita que ela (Sakineh) venha para o Brasil. E se esse ditador tiver um mínimo de bom senso, deve permitir que ela venha morar no Brasil e seja salva, declarou à Agência Brasil. A reportagem entrou em contato com a assessoria de Vannuchi e foi informada que ele não mais falaria sobre o assunto.

Para Mohammad Mostafaei, advogado de Sakineh exilado em Oslo (Noruega), o fato de os direitos humanos serem universais torna legítimas denúncias e críticas feitas por outros governos.

Da mesma forma com que o governo iraniano critica o bloqueio israelense à Faixa de Gaza, outros países têm o direito de contestar as violações dos direitos humanos no Irã, afirma ao Correio, por telefone. As reações não são uma interferência em temas internos, mas uma denúncia e uma cobrança por solução, acrescenta. Mostafaei lembra que a indignação ante o provável destino trágico de Sakineh envolve não apenas governos, mas também filósofos, intelectuais, organizações civis e cidadãos comuns. Quando o Brasil sugeriu conceder anistia a Sakineh, isso repercutiu no mundo.

Foi uma lembrança de que os direitos humanos não podem ser violados, destaca Mostafaei.Apelo Fundadora do Comitê Internacional contra o Apedrejamento e viúva de um executado pelo regime iraniano, Mina Ahadi exorta o governo Lula a manter a pressão sobre Teerã, na tentativa de salvar não apenas Sakineh, mas também os outros 22 sentenciados ao apedrejamento. O regime islâmico é opressão total e, agora, enfrenta grandes problemas com esse movimento internacional contra a lapidação, explica à reportagem, por e-mail.

Segundo ela, não existe uma opinião convergente nem mesmo na esfera de poder no Irã. Os líderes de meu país têm visões diferentes sobre o caso e sobre como poderão se livrar desse dilema, complementa.

Apesar de considerar o Judiciário iraniano imprevisível, o ativista Mahmood Amiry-Moghaddan porta-voz da organização não governamental Iran Human Rights acredita que a pressão mundial está dando resultado.

O Irã executa, em média, uma pessoa por dia. E as autoridades não achavam necessário informar quem está sendo morto ou o motivo da execução.

Agora, graças ao governo brasileiro, o próprio Ahmadinejad mencionou Sakineh, comemora ele.

O apedrejamento ou o enforcamento dela será menos provável enquanto a atenção mundial persistir sobre o caso. Mas o regime é capaz de qualquer coisa. O próprio Ahmadinejad promete uma solução para breve

Uma semana para ataque à usina

»Israel tem uma semana para atacar a central nuclear de Bushehr, no Irã, antes que ela se torne uma usina atômica ativa.

O alerta foi feito por John Bolton, ex-enviado dos Estados Unidos na ONU, em entrevista à rede de TV Fox News. Teerã pretende acionar o primeiro reator nuclear no sábado, quando um carregamento de combustível abastecerá o núcleo da usina. Uma vez que o combustível (urânio) estiver bem perto do reator, atacar (a central) significará uma liberação de radiação, alertou.