Título: Ideia de elevar recursos para FMI gera cautela
Autor: Moreira,Assis
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2011, Finanças, p. C10

Na mais recente reunião de negociadores do G-20, na semana passada em Paris, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu "aterrissagem forçada" de economias emergentes no rastro da atual desaceleração econômica nos países desenvolvidos.

A tese de que é todo mundo que está sendo afetado pela crise pavimentou uma proposta agora da França no G-20, grupo dos países desenvolvidos e emergentes, para aumentar os recursos do FMI, que poderiam superar US$ 1 trilhão, segundo fontes.

Um aumento dos recursos do FMI concentra agora boa parte das atenções de negociadores. Pelos planos franceses, a questão precisa ser considerada pelos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do grupo na semana que vem em Paris.

Mas os emergentes estão cautelosos e suspeitam que o FMI e os europeus dramatizam a situação dos emergentes para acelerar a busca de dinheiro para socorros a Grécia, Espanha, Itália etc e recapitalização de seus bancos.

Até a conferência anual do FMI e do Banco Mundial, em setembro, em Washington, os europeus não queriam internacionalizar a crise europeia, achando que isso mostraria a que ponto suas economias estão frágeis.

Mas a pressão foi enorme dos outros países para a Europa resolver sua crise da dívida soberana. Agora, os europeus dizem que a crise não é só na Europa e sim global, preparam um plano de ação do G-20 no qual todos devem contribuir, e quer vincular o plano a mais recursos para o FMI.

O Valor apurou que a França está propondo, em primeiro lugar, que o FMI abra uma nova linha de crédito de curto prazo, de seis meses, para os países mais abalados pela crise, a exemplo de dois mecanismos com menos condicionalidades criados na crise de 2008. Na ocasião, apenas México, Colômbia e Polônia recorreram aos mecanismos.

A outra parte da proposta francesa tem dois elementos. Primeiro, quer o compromisso dos países do G-20 de que os recursos de cerca de US$ 500 bilhões de um mecanismo temporário de empréstimos conhecido como Novos Acordos para Empréstimos (NAB, na sigla em inglês) continuem intactos.

E segundo, quando os países-membros finalmente aprovarem a duplicação das cotas do fundo, o que só deve ocorrer em 2012 ou 2013 e suas contribuições totalizarão US$ 750 bilhões, a parte nova dessa contribuição deveria vir na forma de dinheiro novo. Ou seja, um país não transferiria o que já dispõe no NAB para a contribuição adicional exigida por dispor de mais cotas.

Isso dará um aumento substancial de recursos para o FMI. Basta ver a situação do Brasil: tem US$ 14 bilhões no NAB. Poderia pegar esse dinheiro e transformar em cotas. Se sua contribuição for de US$ 20 bilhões no regime de cotas aprovado em 2010, mas que os europeus até hoje não aprovaram, o Brasil colocaria adicionalmente apenas US$ 6 bilhões Pela proposta atual dos europeus, porem, teria de manter os US$ 14 bilhões no NAB e colocar liquidamente os US$ 20 bilhões como contribuição por dispor de mais cotas.

Para certos emergentes, a França e o FMI estão forçando a barra. Primeiro, a evidência é de que nenhum país está imune à crise, mas não há indicação de que um emergente precise recorrer ao fundo. Segundo, é ilógico pedir para o emergente dar dinheiro para o fundo e depois ir ao fundo pedir socorro financeiro. Terceiro, países que eventualmente poderão precisar são os menos desenvolvidos, mas o acesso é complicado para eles.

Na situação atual, o FMI tem cerca de US$ 400 bilhões que podem ser emprestados. O fundo contribui com um terço dos programas de socorro da Grécia, Portugal, Irlanda. E as demandas só aumentam na zona euro. "Aumentar os recursos do fundo será muito importante para melhorar sua capacidade de ajudar países em dificuldades", acha Hung Tran, vice-diretor do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo.

Em todo caso, não há clareza ainda sobre o que pode sair do G-20, como nota o analista Chris Scicluna, da Daiwa Capital, de Londres. "O diretor do FMI na Europa, Antonio Borges, chegou a mencionar que o FMI está pronto a apoiar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira através da compra de títulos da dívida italiana e francesa no mercado secundário. Logo depois, ele se retratou e lembrou a todo mundo que o FMI não pode intervir diretamente nos mercados de bônus De fato, diante de questões políticas e legais sobre as atividades do FMI, o melhor que se pode esperar do fundo é empréstimos tradicionais para a Espanha e a Itália", diz ele.

Por sua vez, emergentes querem mais análises e detalhes sobre o plano francês A China foi incisiva, insistindo que não tem culpa pela crise na zona euro. O Brasil também é prudente. A batalha vai continuar nos próximos dias.