Título: Europeus devolvem críticas e reclamam de protecionismo
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2011, Brasil, p. A4
Depois de ouvirem críticas da presidente Dilma Rousseff em relação a ajustes fiscais recessivos, os dois principais líderes da União Europeia saíram ontem da defensiva. Em um seminário empresarial do qual Dilma era uma das principais participantes, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, criticaram a adoção de medidas protecionistas em meio à crise financeira global.
Nos últimos anos, tornou-se comum ver autoridades brasileiras reclamando das barreiras comerciais impostas aos produtos nacionais pelos países desenvolvidos. Agora, depois que a administração Dilma já tomou medidas para proteger a indústria automobilística e promete fazer de tudo para proteger o mercado doméstico de produtos importados que cheguem ao Brasil a preços desleais, os papéis parecem ter se invertido.
Segundo Rompuy, a prioridade dos governos deve ser evitar uma recessão global e garantir a criação de um ambiente favorável ao comércio e aos investimentos. "Protecionismo é uma receita para o fracasso", destacou, acrescentando que a União Europeia deve aumentar os investimentos voltados à geração de emprego. "A União Europeia está determinada a manter a estabilidade da zona do euro e pretende estimular o crescimento econômico estrutural e a produtividade. A União Europeia vai continuar a agir de maneira muito ativa, procurando abortar as tensões existentes no mercado de dívida soberana e procurando reforçar as fundações da união econômica e monetária."
Durão Barroso, por sua vez, defendeu a posição de que Brasil e União Europeia deixem de ter apenas uma parceria estratégica e passem a ter uma cumplicidade estratégica. "Falamos de um crescimento sustentável a nível global, e confirmamos também nosso empenho na reforma efetiva dos mercados financeiros e do sistema monetário internacional e firmamos o apoio à agenda do desenvolvimento e comércio de Doha e à necessidade de evitar todas as formas de protecionismo", afirmou, ponderando que um eventual acordo de livre comércio entre Brasil e União Europeia deveria garantir salvaguardas a setores sensíveis de ambos os blocos.
Dilma reafirmou que os ajustes fiscais adotados pelos países desenvolvidos não devem frear o crescimento da economia. "A história nos mostra que a saída da crise somente virá pelo estímulo ao crescimento econômico, por políticas de estabilidade macroeconômicas, conjugadas a políticas sociais de geração de emprego e renda. Não faz sentido só a adoção de ajustes recessivos", sublinhou.
Mais tarde, após visita à exposição bienal Europalia, Dilma afirmou que a Europa precisa construir "consenso político" para acelerar a recuperação econômica dos países mais atingidos pela crise financeira global. "Não se trata de falta recursos financeiros, estamos falando de países desenvolvidos. Trata-se da construção de um consenso político em torno da recuperação", diagnosticou a presidente.
E rejeitou o controle de fluxos de capital: "Não acho que seja isso que resolve. Há fluxos de capital que ninguém tem controle, principalmente no que se dá nos derivativos", disse. À saída do evento que homenageia o Brasil, Dilma defendeu "coordenação" para esses fluxos. "No G-20, acho que vão ser muito importantes todas as medidas de coordenação macroeconômica e da ampliação da regulação sobre as movimentações financeiras", afirmou. "Porque as crises internacionais têm tido uma raiz muito grande nos fluxos de capital que estão fora de controle. Isso tem sido uma fonte inesgotável de problemas. Sabemos disso até porque tivemos, durante um período, uma situação similar".
Na quinta edição da sua reunião de cúpula, Brasil e União Europeia atualizaram o plano de ação conjunta que norteia a parceria estratégica lançada em 2007. Foram fechados acordos nas áreas de cultura, promoção do turismo, espacial e desenvolvimento tecnológico. No entanto, o anúncio do acordo que garantiria maior liberdade de atuação às empresas aéreas nos dois territórios acabou não ocorrendo. Um impasse nos ajustes finais do texto levou ao adiamento da assinatura do acordo, que era dada como certa pelo Brasil.