Título: Lula aproxima-se de Lembo e Kassab
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2006, Política, p. A7

O vácuo em que o PFL foi deixado pelo PSDB durante a crise de violência em São Paulo começou a ser ocupado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, que esteve na cidade, onde participou da inauguração da nova sede do Sindicato dos Comerciários, ligado à Força Sindical, encontrou-se com o governador Cláudio Lembo e o prefeito Gilberto Kassab, ambos do PFL. Reforçou a solidariedade ao governador e acenou com parcerias ao prefeito.

Lula esteve com Lembo reservadamente, ainda no Aeroporto de Congonhas. Publicamente, reiterou a oferta de ajuda federal ao governador paulista e disse ser solidário à postura de Lembo frente aos ataques de facções criminosas no Estado. O presidente defendeu o governador: "Ele não podia fazer mais do que fez, não podia fazer. O governo federal não poderia vir aqui sem pedir ao governador, por isso que nós oferecemos".

De acordo com Lula, uma ação do governo federal, sem que isso tivesse sido solicitado por Lembo, seria uma intervenção, o que não poderia ocorrer. O presidente contou que, durante o encontro com o governador no aeroporto, ofereceu ajuda mais uma vez: "Cláudio, o que você precisar, não se faça de rogado. Nós estamos dispostos a ajudar com o que a gente tiver para ajudar", teria dito o presidente, segundo seu próprio relato.

No meio da semana passada, Lembo deu entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", na qual criticou a postura de seu antecessor no cargo, Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB. Lembo disse que durante os episódios da semana passada não tinha recebido nenhuma ligação do ex-prefeito de São Paulo José Serra, também tucano, e apenas dois de Alckmin. E ironizou: "Eu acho normal. Os pulsos são tão caros..."

O presidente também fez um afago a Kassab, ao afirmar que espera ter uma parceria mais efetiva com o atual prefeito paulistano. E aproveitou para cutucar Serra, pré-candidato ao governo de São Paulo, ao lembrar que disputas políticas fizeram com que o programa do governo federal para o treinamento técnico de jovens não tivesse dado resultados nem em São Paulo nem no Rio de Janeiro. Segundo Lula, o governo ofereceu 30 mil vagas para adolescentes entre 17 e 24 anos fazerem trabalho comunitário, aprenderem uma profissão e, ainda, ganharem R$ 100 mensais. No entanto, somente 7 mil vagas fora preenchidas. "Foi por problema político, mas eu tenho que isso será resolvido, meu caro Kassab".

Novamente, Lula disse que os ataques criminosos ocorridos em São Paulo não são questões a serem resolvidas somente pelo governador, pelo presidente ou pelo prefeito. "É um problema da sociedade brasileira. Nós estamos colhendo o que plantamos". Para ele, a situação em São Paulo é resultado de duas décadas perdidas para o país, de 1980 a 2000, da falta de investimento em educação, e não apenas da falta de policiamento. Em seguida, citou realizações na área social de seu governo como a inauguração de 32 escolas técnicas federais nesse ano ainda e os bons indicadores econômicos como os da indústria de São Paulo.

E completou dizendo que o Brasil que "nós desejamos é um Brasil que não permite mais que a gente fique encontrando culpados para as coisas erradas". O presidente disse que este governo tem feito sua parte, pois investe na educação para produzir uma geração de jovens mais eficazes, que "possam trabalhar e ganhar sua vida como todo mundo deveria ganhar, trabalhando com seu suor e se sangue".

Além de Kassab estiveram presentes no evento o senador e candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, o ministro da Previdência, Nelson Machado, os deputados federais Luiz Antonio Medeiros e Luiz Eduardo Greenhalgh, além de sindicalistas como o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, e da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.

Em clima de campanha, o presidente e ex-metalúrgico foi muito aplaudido pelos presentes ao longo de todo o seu discurso. No fim do evento, participantes entoaram bordões a favor das candidaturas de Lula e de Mercadante.